São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Esporte vive em uma evolução permanente

CARLOS BIZZOCCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A evolução maior do vôlei, assim como outros esportes, se deu a partir de sua aceitação como esporte olímpico na década de 60, quando a disputa dos jogos se tornou mais viril e competitiva.
Modificações técnicas, táticas e das regras do jogo sempre se interligaram. O advento da manchete como recurso para se receber o saque passou a ser utilizado a partir dos anos 60. O saque, até então uma forma de pôr a bola em jogo, passou a ser uma arma ofensiva.
O toque por cima, que era a maneira de receber o saque, deixou de ser eficiente, tornando-se, até mesmo, perigoso para a integridade do jogador. Imagine, hoje, um saque "viagem" de Marcelo Negrão recebido em toque.
A recepção do saque em manchete fez com que o sacador tivesse que imprimir maior força e efeito à bola para dificultar o trabalho da equipe adversária.
Esse foi um acontecimento fundamental na evolução do vôlei-força que é jogado hoje.
No início das disputas internacionais, as equipes eram diferenciadas em função da qualidade técnica ou do vigor físico. A habilidade dos tchecos e a força dos soviéticos eram características apreciadas e copiadas pelas demais equipes do mundo voleibolístico.
No início dos anos 70, a seleção japonesa apresentou nos Jogos Olímpicos de Munique uma concepção nova de jogo.
Baseando-se em táticas revolucionárias, o Japão imprimia maior velocidade ao ataque, incluindo combinações ofensivas. Os atacantes se deslocavam para diferentes regiões da rede em movimentações rápidas e sincronizadas.
Ao mesmo tempo, os técnicos sempre buscaram diminuir o número de levantadores e aumentar o de atacantes. O tímido 3 x 3 (três atacantes e três levantadores) deu lugar ao 4 x 2 (quatro atacantes e dois levantadores) dos anos 60.
Nesse mesmo período passaram a utilizar a infiltração, com o levantador que estava na rede transformado em atacante.
Na década de 70, o sistema de jogo utilizado por todas as grandes equipes masculinas da atualidade passou a ser aplicado, o 5 x 1 (cinco atacantes e um levantador).
O domínio japonês foi breve, pois os orientais passaram a receita. Outras seleções, capazes de ter homens mais altos, acabaram imprimindo a velocidade de jogo apresentada pelos orientais em equipes com média de altura superior, o que, pela própria característica do povo japonês, não pôde ser alcançada. Entretanto, esse marco na evolução do jogo de vôlei se deve à equipe japonesa.
Mas a dança das evoluções não parou por aí. As regras facilitaram a vida do bloqueio, mas o ataque se modificou. Além de imprimir velocidade no ataque, a partir dos anos 80, a introdução efetiva do ataque de fundo colocava um atacante a mais para preocupar a equipe adversára.
Nessa época, surgia mais um marco no vôlei: a seleção norte-americana, que apresentou ao mundo uma alta especialização dos jogadores em cada uma das posições e das funções a exercer. Além disso, os EUA determinaram, pela primeira vez, a recepção do saque com dois jogadores.
Nesse período, veio a proibição do bloqueio de saque, o que o tornou muito mais forte. Isso fez com que as equipes posicionassem três jogadores para a recepção.
O Brasil apresentou no início dessa década uma equipe jovem que, com jogadores versáteis, atuando em mais de uma posição e com várias funções, revolucionou o estilo americano dos anos 80.
Enfim, a evolução se dá em função da técnica, da tática, da estrutura física dos atletas e das adaptações das regras a essas mudanças. E isso faz com que o vôlei seja um dos esportes que vive em constante mutação.

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