São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Telê Santana chega lá de novo, ainda

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O São Paulo pega esta noite o Nacional de Medellin. Ou o contrário, já que o tricolor anda cheio de reticências nesta temporada. O time tem sofrido muitas alterações, e, quando parecia ter acertado o pé, alguns jogadores-chave, como Juninho, deram pra trás. E aí não há esquema que resista. Aliás, o grande mérito de Telê é não se fixar em teorias ou sistemas. O que vale é juntar um grupo de jogadores talentosos, aprimorar-lhes os fundamentos do jogo, que se trata de mero exercício cotidiano, definir funções e seja lá o que Deus quiser.
A propósito, na 'Mesa Redonda' do Avallone, na 'Gazeta', esse tema foi colocado: qual o melhor técnico, no momento? Claro que a massa de telespectadores optou por Luxemburgo. Afinal, o Palmeiras é líder tranquilo e, disparado, o melhor time do Brasil. Só isso já puxa muitos votos. Mas não dá para comparar Telê com nenhum outro treinador brasileiro. Não só pelo seu passado, mas pelo que está fazendo no São Paulo. Pragmatismo por pragmatismo, nenhum outro lhe chega aos seus pés.
Agora, se quisermos falar de outros atributos, como ousadia, conhecimento teórico, resumindo, inteligência, então, teremos dois: Parreira, ainda que resolutamente medíocre à frente da seleção tetra, e Mário Sérgio, de brevíssima passagem pelo Corinthians.
Parreira foi ousado ao desafiar a todos nós, crítica e opinião pública, escolhendo um caminho pedregoso e cinzento para chegar ao tetra, embora essa ousadia se escorasse numa covardia atroz: o princípio de não perder para ganhar.
Mário Sérgio foi além: usou o Corinthians, uma nação impaciente, como laboratório de suas idéias. Só não ganhou, mas provou que se pode trabalhar com a criação, abandonando os clichês.
Mas Telê chega lá de novo, ainda.

Seria preciso analisar caso por caso para saber por que falhou a blitz do trio de ferro, no último final-de-semana, em direção à uma formação ofensiva.
Não me foi dado ver nem Palmeiras, nem Corinthians em ação. Logo, passo. Mas o simples fato de os treinadores dos três grandes terem sentido a compulsão de testar esse esquema já é um sinal. Um sinal de que não dá para aguentar esse futebol modorrento e burocrático que se espraia por todos os cantos. Quem gosta do jogo da bola não pode aceitar passivamente essa lúgubre romaria em direção ao campo santo da bola. Não deu certo numa rodada? Quem sabe na próxima, hein?

Ainda sobre o melhor técnico do momento. Ora, se a questão é circunstancial, o cetro deveria ser disputado entre Serginho Chulapa e Carlos Alberto Silva, os dois que conseguiram tirar seus respectivos times da maior draga e colocá-los no topo da hierarquia do futebol brasileiro. Isso, sem apelarem para grandes reforços, nem tendo uma boa organização administrativa a respaldá-los. Tiraram do ar, como prestidigitadores. Silva é um veterano, mas Chulapa, estreiou como técnico ainda outro dia. E, conversando com alguns jogadores do Santos, colhi, com ainda maior surpresa, que o segredo de Serginho não é apenas falar a linguagem do boleiro. Garantem que ele se desempenha a contento na orientação tática e estratégica da equipe. Além do mais, o Sérginho é um bom camarada. Voto nele.

Maradona recusou ser auxiliar da seleção. Auxiliar? Nem de Menem.

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