São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Cornelia Parker destrói caixão com martelo

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Cornelia Parker, 38, tem uma tendência a destruir coisas desde a sua infância, quando colocava objetos na linha do trem para ver o que acontecia.
Na Bienal, ela vai apresentar duas obras. "Cold Dark Matter: An Exploded View", de 1991, são os restos de uma cabana cheia de ferramentas, um cortador de grama, uma bicicleta, livros e brinquedos. Parker explodiu o conjunto com dinamite e depois recolheu todos os pedaços para recompô-los como no momento seguinte ao da explosão.
A outra obra, "Another Matter", vai ser produzida em São Paulo especialmente para a Bienal. Parker vai destruir um caixão de madeira com um martelo, mas ela não sabe ainda qual será o resulltado final.
Brincando a respeito da violência no Brasil, ela diz esperar que o ciaxão "não acabe servindo para colocar meu corpo dentro".

Folha - O que vai ser "Another Matter"?
Cornelia Parker - Eu ainda não sei. Vou usar um caixão de madeira e fazê-lo em pedaços com um martelo. Eu gosto muito da idéia de destruir monumentos e rearranjar os resíduos, e o caixão me parece ideal para isso.
Folha - A sra. vai destruir o caixão em uma performance?
Parker - Não. Prefiro trabalhar de forma reservada.
Folha - Por que a sra. acha que tem essa compulsão para destruir coisas?
Parker - (Risos) Não sei. Acho que é um tipo diferente da escultura tradicional, em que se talha a pedra para liberar a forma. Eu destruo a forma para recriá-la, mudar os objetos associando suas partes. Acho também que fui influenciada pelos desenhos animados, em que as coisas estão sendo sempre explodidas, mas não morrendo. Eu não estou destruindo esses objetos, mas revelando novos significados deles. É como um ritual para erradicar os velhos significados.
Folha - Quando a sra. começou este tipo de trabalho?
Parker - Foi gradual. Eu venho destruindo coisas desde minha infância. Quando era pequena destruía as coisas compulsivamente. Vivia colocando objetos na linha do trem para ver o que acontecia.
Folha - A sra. pode viver do seu trabalho artístico? Uma obra como "Cold Dark Matter" tem mercado?
Parker - Eu na verdade não trabalho pensando nisso. As pessoas interessadas em comprar meu trabalho geralmente são de museus. Eu ganho dinheiro também dando aula e com bolsas de trabalho.

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