São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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"Juntatribo" acaba na segunda edição

FLÁVIO FARIA
DA FOLHA SUDESTE

O "Juntatribo", festival que reúne bandas alternativas de todo o país em Campinas (interior de São Paulo), não vai mais acontecer nos próximos anos.
Sérgio Vanalli, organizador do 2º "Juntatribo", garante que esta foi a última edição do festival.
Segundo ele, "foram três dias de pura tortura". "Não quero correr o risco de causar um mal maior", disse Vanalli ainda no domingo à tarde, pouco antes da apresentação da primeira banda, Wry, de Sorocaba.
Para ele, a segunda edicão do festival foi marcada por excesso de tudo. "Muita bebida, violência e libidinagem. Muita gente veio só para aparecer", afirmou. "O público foi muito diferente do ano passado. Houve muita violência."
A organização esperava reunir mais do que as 3.000 pessoas por noite que compareceram ao Observatório a Olho Nu da Unicamp. "Ainda bem que não veio mais gente", disse Vanalli.
Vanalli, formado em engenharia química pela Unicamp, se diz decepcionado com a atitude de alguns grupos mais radicais.
Na noite de sábado, por exemplo, um grupo de 20 anarcopunks e os integrantes da banda Garage Fuzz só não se pegaram logo depois do show porque os seguranças conseguiram evitar.
Segundo um dos líderes do movimento punk "Consciência", L.O., 18, eles "só queriam trocar uma idéia" com a banda. Os punks se irritaram com o grupo depois de eles tocarem uma música do grupo norte-americano Exploited, que, segundo os anarcopunks, defende o fascismo.
Ao final do show, que contou com cusparadas, arremesso de latas de cerveja e terra, Bráz se limitou a dizer que aqueles "caras" não passavam de "uns otários".
"A idéia não é juntar tribos miseráveis de espírito. Esse evento foi um fracasso humano", concluiu Vanalli.
Uma das causas de tanta decepção, segundo ele, foi o fato de o "Juntatribo" do ano passado ter sido realizado durante a semana, entre terça e quinta-feira. Desta vez, o evento aconteceu de sexta-feira a domingo.
O organizador afirmou ter desembolsado cerca de R$ 3.000,00. Como patrocínio, o festival contou com R$ 8.000,00 da cantina da engenharia-elétrica da Unicamp, que deu para pagar o aluguel do toldo de circo, do palco e do som.
Segundo Sérgio Vanalli, além do público, as bandas também ajudaram a enfraquecer a festa. Para ele, 20% dos conjuntos foram mais para aparecer do que para apresentar seu trabalho.
"Eles querem o sucesso fácil, aproveitando que haveria cobertura da imprensa, presença de gravadoras independentes e MTV", disse.
"É o tipo de evento que tem tudo a favor. É um ótimo espaço para as bandas e para a imprensa divulgar o trabalho de grupos pequenos", disse. "O mercado tem muita coisa boa mas não tem estrutura, não é bem estruturado como o rap, por exemplo."

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