São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Meta dos EUA é dar proteção

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL

O Exército dos EUA está colocando no Haiti um grupo de 3.300 homens por dia. Até amanhã terão desembarcado no país 10 mil soldados, mais 2.000 fuzileiros navais ("marines").
Essas informações foram transmitidas ontem à Folha pelo comandante Barry Willey, na embaixada dos EUA na capital do país.
Segundo ele, as ordens transmitidas pelo presidente Clinton foram de que as tropas americanas devem "dar proteção ao governo, profissionalizar o Exército e evitar distúrbios sociais no Haiti".

Folha - Como está sendo a ocupação?
Barry Willey - Entramos com 3.330 homens. Vamos repetir essas incursões numa média de 3.500 homens por dia.
Amanhã, chegaremos a 10 mil homens. Nossa meta é dar proteção ao povo e ao governo do país. Depois, temos ordens para profissionalizar o Exército haitiano.
Folha - Como será a entrada desses novos soldados?
Willey - A primeira tarefa é sempre fazer um assalto com helicópteros Blackhawk. Depois entramos com "marines", que saem de carros anfíbios.
Na primeira invasão, colocamos 800 marines em Porto Príncipe. Hoje entraram outros 800 marines.
Folha - Como serão feitas as próximas ações?
Willey - Estamos fazendo missões de segurança em lugares determinados pelo governo haitiano. Estamos fazendo operações no interior, em lugares como Lemonade e Jimaní, mas ainda não se detectou nenhum distúrbio civil.
Folha - Quais são as ordens dadas aos soldados?
Willey - Não devem responder à violência, mas devo dizer que podem ocorrer situações que estão acima da nossa vontade.
Folha - Como foi a ação no palácio governamental, onde estava o general Cedras?
Willey - Um sargento entrou calmamente, abrindo porta por porta. A uma certa hora, ele bateu numa das portas e ela não se abriu.
Aí, foram buscar uma chave. Ela não funcionava. Nesse momento, um militar haitiano veio com um machado e começou a quebrar tudo. Nosso soldado impediu a ação dele, dizendo que não podia fazer aquilo porque não era propriedade dele.
Folha - Quem vocês estão caçando agora?
Willey - Michel François, chefe de polícia do Haiti, fugiu no dia da invasão. Procuramos por ele na fronteira e temos informações cedidas pelo sr. Cedras. François será julgado pelo Conselho de Segurança da ONU.
Folha - Quais são os próximos passos?
Willey - Vamos arrumar um avião para transportar muitos jornalistas que não estão conseguindo voltar para casa. Vamos continuar tentando localizar suspostos focos de resistência. O embargo também está por terminar, mas somente quando tivermos certeza da vigência do regime democrático.
(CJT)

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