São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Eterna vigilância

Com a demissão de Alexis Stepanenko do Ministério das Minas e Energia, motivada pelas denúncias de uso da máquina em favor do candidato Fernando Henrique Cardoso, o Planalto utiliza uma estratégia semelhante à empregada no caso Ricupero: o apoio ao candidato existe, mas não pode ser explícito a ponto de prejudicá-lo.
O episódio mostra também que a lisura nos procedimentos governamentais não pode hoje ser vista como um objetivo meramente retórico, que em geral é colocado em segundo plano face às conveniências dos que estão no poder.
O Brasil, como se sabe, tem uma larga tradição de fisiologismo, de favorecimentos espúrios, de uso de cargos públicos visando os objetivos de grupos. A história recente do país, entretanto, tem sido pontilhada de acontecimentos que sinalizam encorajadoras mudanças nessa nefasta tradição.
Mas a grande questão que o caso Stepanenko suscita é definir quais os limites da ação de membros dos governos em campanhas eleitorais. Como já se ponderou neste espaço, autoridades governamentais, em caráter pessoal, podem ter seus candidatos. É normal nas democracias. O que não pode ocorrer é que tais autoridades se utilizem de recursos públicos e da máquina estatal com objetivos eleitorais.
Ainda que o uso da máquina pública com fins eleitorais na maioria dos Estados e municípios seja ostensivo, a sociedade civil não pode se calar ante esse ou qualquer tipo de abuso. O preço da lisura governamental, Conselheiro Acácio já ensinava, é a eterna vigilância.

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