São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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A posse que já houve

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Fernando Henrique Cardoso não precisa se preocupar muito com o fato de a posse do novo presidente estar marcada para 1º de janeiro. Essa data só vai atrapalhar a parte pirotécnica da posse, por ser feriado universal.
Para quase todos os efeitos práticos, a posse do novo governo já ocorreu. A burocracia federal trabalha com uma normalidade provavelmente inédita na história republicana para um final de mandato.
A Fazenda, por exemplo, programou para ontem uma reunião do Conselho Monetário Nacional destinada a abrir a brasileiros a possibilidade de investimentos no exterior. É providência que, em circunstâncias normais, não se toma quando faltam apenas 101 dias para trocar de presidente.
O ministro da Previdência Social, Sérgio Cutolo, viajou à noite para Belém. Foi lembrar os procuradores do INSS das metas de cobrança judicial de dívidas para com a Previdência. Em outras transições, o ministro de turno estaria apenas arrumando gavetas ou fazendo coisas piores, como deixar um longo testamento de nomeações.
A burocracia só não faz mais por dois motivos: 1) A inexistência, até agora, de um Orçamento aprovado travou inúmeros ministérios; 2) Os ajustes no Plano Real dependem de uma circunstância política inalcançável em um período eleitoral (e talvez também depois dele, mas essa já é outra história).
É fácil, de qualquer forma, explicar esse aparente ineditismo: se as pesquisas confirmarem nas urnas o sentimento que percorre a máquina pública federal, será a primeira vez na história em que um presidente faz o sucessor. É claro que não estou computando a República Velha (até 1930), porque o voto era limitado demais para justificar o carimbo de democracia plena.
Fosse Luiz Inácio Lula da Silva o líder nas pesquisas e o ambiente seria certamente muito diferente. Igual ou até mais estremecedor do que o dos finais de gestão de João Baptista Figueiredo e José Sarney.
Com FHC, instala-se um ar de rotina continuada. Se para o bem ou para o mal, vai-se começar a ver em exatos 101 dias.

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