São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 1994
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Para quê? Para nada!

CARLOS BRICKMANN

O mais curioso, nessas histórias de Stepanenkos, Ricuperos e Itamares, é a absoluta falta de necessidade. Fernando Henrique está com a vitória ao alcance da mão; utilizar a máquina não tem mais qualquer finalidade eleitoral. O que está sendo feito só pode atrapalhar.
Watergate, por exemplo. Nixon tinha a vitória assegurada contra o fraco George McGovern. Não precisava fazer nada exceto administrar a vantagem, mas queria saber o que fariam os adversários. Fariam besteira, é claro: é o que tinham feito a campanha toda e não havia motivo para que mudassem.
Nixon tanto insistiu que quem fez a besteira foi ele. Seu pessoal invadiu o edifício Watergate, em Washington, quartel-general da oposição, e se iniciou o processo que culminaria com a queda do presidente.
O deputado federal Hélio Bicudo, do PT, já fala em ilegitimidade das eleições. Pode ser o início de uma campanha de contestação da vitória. Contestar a vitória por causa do uso da máquina é golpismo; mas de que adianta esta opinião se houver contestação maciça?
Há uma série de fatores que se conjugaram para levar Fernando Henrique ao ponto em que está. O real é o mais forte: passar quase três meses comprando pãozinho ao mesmo preço é gratificante. Não é apenas a estabilidade dos preços: é também a volta da esperança.
Um eleitor massacrado por más notícias, por inflação e recessão, por corrupção e desemprego, não quer ouvir só más notícias: fica feliz de saber que sua vida talvez melhore.
Há outros fatores de peso. A tomada de posição empresarial em torno de Fernando Henrique, sua escolha para encarnar o anti-Lula, a forte aliança política, o apoio dos meios de comunicação; a simpatia pessoal, a excelente formação intelectual, um passado sem deslizes; uma campanha bem feita, um partido de boa imagem, candidatos competitivos nos Estados.
Até os adversários colaboram, insistindo em cara feia e denúncias e proclamando inflação que pode até teoricamente ter ocorrido, mas que não se refletiu nas barracas da feira.
Instalar energia elétrica em Sinop, inaugurar um porto em Sergipe, pedir aos consumidores que não consumam, nada disso modifica significativamente o voto do eleitorado. Serve apenas para fazer marola; e quem está na frente, numa campanha, precisa tanto de marola como de buchada de bode.
Time que está ganhando não briga com o juiz, não provoca a torcida, não quer que ninguém invada o campo. Não quer que o gandula vista a sua camisa nem que o juiz dê entrevistas elogiando seu futebol. Para Fernando Henrique, quanto menos se falar de eleição, melhor.
O problema é que, na campanha tucana, se repete a piada a respeito da criação do Brasil. O Todo-Poderoso deu a Fernando Henrique os melhores adversários, as melhores circunstâncias e o clima mais propício. Mas precisa ver os ministros que arranjou para apoiá-lo!

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