São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 1994
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Cuidado com a euforia

O índice da Fipe de 0,96% na segunda quadrissemana de setembro é mais um sinal de força do real, superados os resíduos da inflação da moeda velha. Essa inflação é só do real, e ela é muito baixa. Baixa, aliás, não apenas em comparação à superinflação de mais de 1% ao dia de três meses atrás, mas principalmente porque ocorre sem um congelamento, como o do Cruzado, quando pela última vez o brasileiro viu taxas inferiores a 1% ao mês.
Entretanto, o problema inflacionário não está definitivamente equacionado. De um lado, essa inflação baixa reflete apenas um mês. Somente uma inflação persistentemente baixa confirmará se, de fato, está em curso uma mudança fundamental de regime monetário, não apenas uma mudança cosmética de padrão monetário. Isso inclui verificar se, com o tempo, os agentes econômicos e o próprio governo abrem mão da cultura inflacionária.
De outro lado, não é segredo que há pressões inflacionárias latentes, a curto e longo prazo. Teme-se, por exemplo, que o aumento do salário mínimo e os primeiros dissídios pós-real constituam pressões sobre os preços. A entressafra agrícola, agravada pela seca, poderá afetar os índices de outubro. E a nova moda de verão, prestes a ocupar as vitrines, ajudará também a empurrar a inflação de cerca de 1% ao mês para quase 2%. Uma inflação ainda muito baixa, mas incômoda.
Quanto às perspectivas de longo prazo, é evidente que sem profundas alterações no regime fiscal nunca será consolidado esse novo regime monetário. Mas essas alterações exigem mudanças constitucionais e cerrado empenho do Executivo no controle de seus gastos –um desafio essencialmente político que ainda está para ser vencido.
Como em todo regime novo, a novidade e os resultados iniciais trazem enorme alívio. O mais difícil é enfrentar com vigor a tentação de voltar aos vícios do regime antigo.

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