São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994
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Mercearia do Conde preserva simplicidade

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Embora o nome possa enganar, a Mercearia do Conde é hoje muito mais um restaurante que outra coisa. Ela nasceu há três anos como um simples empório, com produtos a granel e alguns importados, mas o uso fez de lá um concorrido ponto de almoço.
Não era bem esse o plano das proprietárias, Maddalena Stasi, baiana de 32 anos, antes dedicada à edição de revistas culinárias, e a paulistana Flávia Bacellar Mariotto, 35, ex-dona de uma fábrica de sorvetes. Ao abrirem o empório com ar interiorano, de paredes caiadas e madeiras rústicas, elas esperavam apenas vender seus produtos de varejo, mantendo um balcão de cafezinho mais como gentileza para a clientela –e para servir eventuais sanduíches.
Um ano e meio atrás, porém, o movimento dos sanduíches e tortas já era maior do que o esperado. Da demanda veio a oferta, começando por tímidos pratos trazidos prontos de fora e aquecidos na hora. Uma enxurrada de clientes inundou a casa em busca do almoço servido precariamente entre as prateleiras que exibiam os produtos.
Desde então a precariedade não diminuiu muito: cada pedaço de balcão, de mesas de mostruário ou das mesinhas de metal que também invadem a calçada é tomado pelos clientes. Eles buscam o ar descontraído em que se cruzam frequentadores daquele canto dos Jardins e uma comida próxima do trivial, mas com boas soluções.
Hoje os pratos são todos feitos lá mesmo. Ficam expostos, já prontos, aos olhos dos clientes (o que é frequente, mas nunca muito recomendável), e são aquecidos em forno elétrico ou microondas, o que, em certos casos, como o das massas, lhes tira muito do viço. Mas nem por isso perdem seus principais atrativos –o de serem feitos com capricho, preservarem um certo ar caseiro e terem referências, sempre bem-vindas, à cozinha brasileira.
O capítulo brasileiro, aliás, é dos mais atraentes. Sem dia certo, mas com melhores chances de aparecerem numa sexta-feira, o vatapá baiano, a carne-de-sol com pirão de leite e o bobó de camarão são exemplos raros nos restaurantes paulistanos, mas não na Mercearia do Conde. Assim como o cuscuz paulista, o lombinho com farofa, a frigideira de bacalhau...
Fora da ala nacionalista há também pratos atraentes –caso do frango enrolado com damasco, da lasanha com funghi e presunto cru ou do cordeiro com recheio de ervas. As saladas e os sanduíches (feitos com recheios de qualidade), que vêm dos primórdios da casa, continuam outro bom atrativo da Mercearia do Conde.

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