São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Votos cruzados

DA REDAÇÃO

A distância entre a calmaria atual e a agitação de sempre do mercado financeiro mede-se em dias –oito, antes de o país dizer nas urnas se as eleições presidenciais se resolvem de uma só vez ou se haverá um segundo turno.
O candidato oficial, Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, corre perigo e sabe disto. O Plano Real passa com notas ótimas nas pesquisas de opinião em setembro, mas se prevê que elas não sejam tão boas a partir daí.
Todo plano econômico é uma aposta de risco calculado e necessita, em seu decorrer, de ajustes. O que criou o real, obedecendo aos cálculos e às incertezas impostas pelo calendário das eleições, não foge à regra.
Em câmera lenta, e com problemas bem menores que seu congênere, o Cruzado, ele começa a apresentar os primeiros sintomas preocupantes –expansão monetária bem acima da estimada, pressões por reajuste de preços e pela reindexação, forte demanda em setores industriais ainda localizados, greves por aumento de salários.
Como foi calculado, setembro seria o apogeu do Real. Não se deu prazo para o declínio. Mas é certo que ele possa começar em outubro. No momento em que a inflação atinge quase recordes de baixa, começa também a via crucis dos reajustes das matérias-primas e do estrangulamento de produção em algumas pontas da economia.
Ninguém poderia contar com uma seca forte, que repete o padrão das anteriores –podendo comprometer o abastecimento futuro, ela serve de argumento para se puxar preços de alguns alimentos da cesta básica no presente. E a penúria fiscal do governo, que se equilibra em um não-Orçamento, é de uma visibilidade atroz.
Para um candidato que cavalga um plano econômico como principal trunfo, como FHC, o aconselhável é liquidar as eleições já. Para seu opositor, Lula, fluirão naturalmente os votos de quem se desiludir com o Real –uma questão para a qual o tempo sempre joga contra programas de estabilização.
As pesquisas apontam larga vantagem para FHC também no segundo turno –se tudo continuar como está hoje. Lula se debate com a falta total de eixo do discurso de sua campanha.
O Plano aguenta vários trancos. Mas as expectativas mudam razoavelmente se, com mais de dois terços da população a favor do Real, as urnas apontarem para o segundo turno.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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