São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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A ética é bom negócio

LUÍS NASSIF

Fins dos anos 70. Em almoço com a imprensa é apresentada a chapa única para as eleições da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A esperteza era exaltada e, nas colunas econômicas, o máximo da sofisticação consistia em publicar alguma boutade e atribuí-la a uma "raposa felpuda".
Uma das raposas presentes, felpuda e encharcada, pôs-se a explicar aos jornalistas o que era ser empresário.
"O empresário é um ser superior, porque nós temos o feeling", dizia ele. E exemplificava: "Há três anos empreguei em minha fábrica filho de general e hoje seu pai vai ocupar alto cargo no governo".
1994. Um dos grandes bancos nacionais inclui a ética dos negócios no treinamento de seus funcionários. Na área de recursos humanos, o tema do momento é a ética e a cidadania nas relações internas e externas das empresas.
Mais que 15 anos, há uma eternidade entre os dois momentos. A mesma que separa o atraso da modernidade.
Safadeza militante
A estupidez do velho gambá tinha contrapartidas mais sofisticadas entre pensadores econômicos da época, cuja máxima era a de que o empresário se move exclusivamente pelo lucro.
Não se exija dele comportamento ético, compromisso com o país, lealdade com parceiros comerciais e com seus empregados.
Naqueles tempos, o "feeling" empresarial era o primo rico e o "jeitinho" o primo pobre, ambos, sobrinhos tortos da estrutura burocrática do Estado brasileiro, em que amizades e expedientes eram mais valiosos do que mérito individual.
A imagem do empresário de olhar rútilo marcou ferozmente os anos 70 e foi a principal responsável pelo espírito antiempreendedor dos anos 80.
Enquanto a economia mundial passava a exercitar parcerias, associações, complementações, enquanto o consumidor tornava-se o centro das estratégias empresariais, o país continua imerso nesse subdesenvolvimento burro. Quem quer se aliar a espertos?
Agora, à medida que essa estrutura burocrática vai se esboroando e que as relações inter-empresas e com o consumidor passam a ser o foco do planejamento empresarial –e não mais as apostas em torno do próximo general ou burocrata ou político– muda-se o enfoque dos negócios.
Ainda há uma série de malandros bem-sucedidos na praça, mas a cada dia mais nítido fica que ser ético é bom negócio.

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