São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Números e números

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Leonel Brizola tem a grande vantagem de entrar logo no campo da ficção. Nada de racionalizar, contra os números.
Ontem, estava ele lá, no horário eleitoral:
– Tome nota destes números, frutos da minha experiência e das minhas observações. Este Fernando Henrique deve andar aí por 19%, 20%. Lula, 10%, 12%. E eu estou aí, embolado com eles.
O alvo, claro, eram os números das pesquisas:
– As pesquisas não passam de máquinas de propaganda eleitoral, pagas a peso de dinheiro.
Lula, para atingir o mesmo alvo, racionaliza. Combate números com números, buscando motivo para acreditar, ele mesmo.
Ontem, de seu locutor no horário eleitoral:
– Outros institutos mostram números diferentes, mas não são divulgados pela televisão.
A propaganda trata, então, de divulgá-los:
– A pesquisa de Toledo e Associados, feita nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mostra empate técnico. Lula com 33%, Fernando Henrique com 36%.
Tem mais, sempre em cifras enormes, na tela:
– Instituto Acertar, do Pará, mostra Lula com 38%, Fernando Henrique com 34,5%. Pesquisa do instituto Soma mostra que em Brasília Lula está com 30% contra 35% de Fernando Henrique...
E por aí vai, no Rio Grande do Sul, no ABC, sempre para segurar as expectativas, sobrepondo números a números.
O resultado não é muito diferente daquele da "experiência" ou das "observações" do engraçado Leonel Brizola.
Controle de preços
Passou o tempo e nada de Lula propagandear sua alternativa ao real, sua idéia de combate à inflação. Até ontem.
No horário eleitoral, em direito de resposta contra Enéas, já no fim do texto, entrou pelo menos uma indicação:~
– Só Lula representa a possibilidade de um governo voltado para a maioria dos brasileiros. Com geração de empregos, controle de preços e salários dignos.
Entre "geração de empregos" e "salários dignos", estava lá. É aquilo mesmo. A idéia é controle de preços.
Havana
Faltando uma semana, Lula finalmente aparece fumando um charuto, na televisão. Nem seria preciso dizer, mas foi no Fantástico.
Que registrou, de qualquer maneira, que o candidato petista estava fazendo naquele momento um "grande comício" em São Paulo.

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