São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Secretário proíbe repórter da Folha de falar com presos

sobre eleição

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário estadual de Administração Penitenciária, José de Mello Junqueira, proibiu os presos da Casa de Detenção de São Paulo de falar publicamente sobre eleições.
A censura fere o direito à liberdade de expressão, previsto na Constituição, segundo o advogado Marcio Thomaz Bastos.
Proibição
Na última quinta-feira, Junqueira proibiu reportagem da Folha que deveria abordar o que os presos da Casa de Detenção de São Paulo pensam sobre o processo eleitoral deste ano.
O secretário não quer "matérias políticas dentro da Detenção", afirmou o assessor de imprensa Silvio Monteiro sobre o veto.
Junqueira foi procurado pela Folha na quinta-feira, mas não atendeu aos telefonemas e nem deu qualquer forma de retorno. Na sexta-feira, ele viajou.
Juiz
A censura imposta por Junqueira contrariou decisão do juiz-corregedor dos presídios da Capital, Ivo de Almeida, que havia autorizado a reportagem na terça-feira.
O jornal pretendia entrevistar presos que seriam libertados antes de 3 de outubro e detentos sem condenação definitiva.
A legislação brasileira prevê o direito ao voto de presos provisórios (sem condenação definitiva e presumivelmente inocentes), mas isso não é cumprido.
A reportagem, portanto, iria falar com pessoas que não apenas têm direito a expressão, mas também a voto, segundo o que lhes garante a legislação vigente.
Quando o preso é condenado definitivamente (não há mais chances de recorrer da sentença), ele perde os direitos políticos –de votar e de se candidatar.
Luiz Flavio D'Urso, presidente da Associação dos Advogados Criminais do Estado de São Paulo, entende que a cassação dos direitos políticos dos condenados "abrange também a manifestação pública".
Para D'Urso, o secretário Junqueira teria se baseado nessa interpretação ao vetar a reportagem.
"Leitura restrita"
O advogado Marcio Thomaz Bastos considera essa interpretação uma "leitura restrita". A censura do secretário foi um ato "ranzinza", segundo ele.
Bastos não concorda que a cassação dos direitos políticos inclua também a manifestação dos pensamentos dos condenados. Isso seria inconstitucional.
"É bom que os presos possam falar de política. Quem os impede está olhando pelo retrovisor, e não para frente", disse.

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