São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Empresas farão 500 mil linhas em SP

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A diretoria da Telesp prepara os editais de concorrência para instalação de 500 mil telefones na Grande São Paulo, em parceria com o setor privado.
Como o custo de instalação de cada telefone é estimado em US$ 2.000,00, esta será a maior concorrência já feita na área da telefonia: US$ 1 bilhão.
É dinheiro suficiente para se adquirir 10 mil apartamentos de três quartos em bairros de classe média na cidade de São Paulo.
Os novos aparelhos serão alugados e não mais vendidos à população. Pelas previsões da Telesp, o aluguel deverá custar R$ 30,00 por mês na cidade de São Paulo.
A estatal calcula que há uma escassez de 500 mil telefones na cidade a partir da procura em julho, quando a empresa abriu inscrições para venda de 47 mil linhas. Só na capital, houve 667 mil inscritos.
Embora o aluguel estipulado pela Telesp esteja abaixo do praticado hoje na cidade –os preços variam de R$ 60,00 a R$ 120,00, conforme o bairro–, a direção da estatal não sabe qual será a reação do público.
Enquanto na maioria dos países o telefone é visto como serviço (e instalado gratuitamente), no Brasil a escassez de linhas o transformou em um patrimônio cobiçado.
Segundo o diretor de Operações da Telesp, Lutero Castro Cardoso, os editais de concorrência estarão prontos em um mês e mais dois meses serão gastos na concorrência.
Assim, as obras só terão início em 95, já no próximo governo. A instalação de 500 mil telefones na capital equivale a uma expansão de mais de 10% da rede atual instalada, de 4 milhões de linhas.
Com esta expansão, feita de uma só vez –a concorrência será dividida em 15 lotes, cada um abrangendo vários bairros– a Telesp espera derrubar os preços de aluguel e de venda de telefone no mercado paralelo.
A Telesp e as demais companhias telefônicas estatais foram autorizadas pelo governo Itamar a ampliar suas redes de serviços com financiamento privado.
Em princípio, as parcerias serão feitas entre as telefônicas e consórcios de empresas, que reunirão fabricantes de equipamentos, empreiteiras e instituições financeiras.
As parcerias foram arquitetadas pelo sistema Telebrás como solução para ampliar os investimentos em telecomunicações e driblar o corte de recursos para as estatais do setor no Orçamento da União deste ano e no previsto para 1995.
Os consórcios instalarão os equipamentos com recursos próprios. As estatais pagarão cinco anos de "aluguel" pelo uso das novas redes, no fim dos quais elas se incorporariam à infraestrutura pública.
Trata-se de um contrato de leasing disfarçado (as estatais não podem fazer leasing). Como os investimentos serão pagos como aluguel, serão lançados como despesa, escapando do limite imposto pelo Orçamento.
Com o dinheiro do aluguel pago pelos usuários, mais a receita do serviço, elas calculam que poderão pagar os consórcios privados.
Segundo o diretor da Telesp, a era da venda de telefones no país está chegando ao fim. Um dos principais motivos da Telebrás para acabar com o sistema é estancar a distribuição de ações ao público. Hoje, ao adquirir uma linha nos planos de expansão, por US$ 1.200,00, o usuário recebe metade do dinheiro de volta, sob a forma de ações da Telebrás.
O modelo se tornou um problema para a Telebrás, que não consegue gerir uma base espalhada de 6,5 milhões de pequenos acionistas.

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