São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pará consegue soluções baratas e engenhosas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A melhor relação custo/benefício do sistema público de bibliotecas não está hoje na região Centro-Sul. Está no Pará.
É ao menos o que afirmam bibliotecários e planejadores ouvidos pela Folha.
O estado tem mais bibliotecas (182) que municípios (132). São estabelecimentos que, segundo a diretora do sistema local, Valdéia Cunha da Silva, esforçam-se e conseguem funcionar como "centros comunitários de cultura".
A fórmula poderia esconder algum requinte retórico. Mas faz sentido. Vejamos.
As bibliotecas possuem um programa chamado "Vídeo Informa". São documentários em torno de temas como o cólera, a Aids ou a música popular.
Os vídeos são enviados a cidadezinhas como Assuá, localizada a 36 horas de barco de Belém. São projetados e discutidos com a ajuda de médicos ou animadores culturais.
O Pará também dispõe de "caixas com livros" -literalmente, é isso mesmo– colocadas em lanchas tripuladas por um contador de história e que percorrem, para empréstimos e difusão narrativa, vilarejos nas margens dos rios.
O Pará privilegia autores locais e não gasta fortunas em livros. Tinha este ano um orçamento para novas aquisições de R$ 113 mil. Rondônia, segundo informações da Fundação Biblioteca Nacional, deveria gastar R$ 250 mil e Pernambuco R$ 500 mil.
A atual equipe de bibliotecários paraenses conseguiu estimular a produção editorial no Estado. "Está acontecendo, por lá, algo parecido ao que ocorreu no Rio Grande do Sul há duas décadas", diz Marcio de Souza, da Fundação Biblioteca Nacional.
Há em outros Estados políticas igualmente baratas e criativas. Em Ibiporã, no Paraná, os alunos das escolas públicas coletaram e trocaram lixo seletivo por livros e com isso passaram a ter uma relação diferenciada com o acervo da biblioteca municipal.
Em Santa Catarina, para estimular a leitura da população rural, o sistema de bibliotecas identificou pontos semanais de encontro (igrejas, feiras) e entregou o acervo para empréstimos a padres ou comerciantes.
Em Brasília, há dois exemplos contrastados. A seção local da Biblioteca Nacional entrega a idosos livros que eles encomendam por telefone. Ponto para ela.
Mas, entre os ministérios, a situação é no mínimo pouco gloriosa. O Ministério da Cultura, por exemplo, teve sua biblioteca desativada e os livros encaixotados com a chamada reforma administrativa do governo Collor.
(JBN)

Texto Anterior: Bibliotecas resistem em sair do século 19
Próximo Texto: Orçamento bloqueou compras
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.