São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994 |
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Era de ouro da canção chega em dez CDs
RUY CASTRO
Os demais discos (The Four Lads, Teresa Brewer, Bobby Vinton) até que têm bons momentos. Mas se você compilá-los direitinho, eles caberiam num único lado dos extintos LPs. O disco de Mel Tormé (que virá ao Free Jazz em outubro), contém grandes faixas, escondidas desde 1964, quando foram gravadas. Não são as suas 16 "mais pedidas", e nem Mel é um cantor "popular", mas para poucos e felizes. Ele é um craque para jazzificar qualquer canção sem estuprar a letra ou a melodia. E seu bom gosto é total: vai de "Isn't It a Pity", dos Gershwins, a "I Know Your Heart" e "You'd Better Love Me", de Hugh Martin, um dos maiores e mais esquecidos compositores americanos. Os discos de Sarah Vaughan e Beeny Goodman também são infernais, mas repetem faixas que a Columbia vive lançando: "Black Coffee", "Pinky" etc., com Sarah; "Sing, Sing, Sing", "Flying Home" etc., com Benny –como se não houvesse escolha naqueles fartos arquivos. É verdade que, aqui, elas estão soando melhor do que nunca. E sempre vale lembrar o milagre de que as faixas de Benny, tiradas do concerto no Carnegie Hall em 1938, foram gravadas com um só microfone. O disco de Bing Crosby contém 16 pequenas obras-primas gravadas entre 1931 e 1934, quando, paralelamente a Louis Armstrong, Bing estava inventando a música vocal americana. Ouça "Sweet Georgia Brown", "How Deep is the Ocean", "Dinah" e confira. Nos últimos tempos, tem sido feita justiça a Bing e muitos estão acordando para o fato de que, sem ele, todos estaríamos até hoje fazendo gargarejos ao microfone. Outra beleza é o disco de Mary Martin, uma das grandes damas da Broadway. Ela foi a criadora de "My Heart Belongs to Duddy", de Cole Porter, em 1938: do repertório de "South Pacific", 1949, e de "The Sound of Music", em 1959, ambos de Rodgers & Hammerstein. Está tudo aqui nas versões originais. Não é uma cantora de jazz; é uma cantora de teatro; mas e daí? Doris Day sempre foi uma cantora de jazz, até nas tolices que a Columbia a fazia gravar, como "Sugarbush" ou "A Guy Is a Guy". Mas, quando Doris cantava "Sentimental Journey", "It's Magic" ou "Bewitched", era o máximo. A cantora mais popular dos anos 50 também está sendo objeto de uma "redescoberta" nos EUA e na Europa. Mas o que ela devia fazer era sair de sua aposentadoria e voltar a gravar. O falecido (em 1990) Johnny Ray, famosíssimo em 1951, cantava chorando. Seus ouvintes o ouviam idem. Toalhas eram distribuídas entre a platéia. Ao cantar "Cry", ele escandia as sílabas e pronunciava "ca-ra-yy". Quando a novidade se esgotou, Johnny virou nostalgia em vida. Na verdade, ele não era tão mau e fazia uma passável imitação dos cantores negros de "soul" e blues. Sem Ray, não teria havido Elvis –e você decide se ele deve ser louvado ou culpado por isso. Quanto a The Four Lads (um grupo vocal dos anos 50, precursor do estilo "doo-wop"), Teresa Brewer (a rainha do oportunismo e uma chata em todos os estilos) e Bobby Vinton (um pré-Roberto Carlos do tempo do iê-iê-iê), economize seus fachos de laser. Título: 16 Most Requested Songs Artista: CDs individuais com Mel Tormé, Sarah Vaughan, Benny Goodman, Bing Crosby, Mary Martin, Doris Day, Johnnie Ray, The Four Lads, Teresa Brewer e Bobby Vinton. Gravadora: Sony/Columbia Quanto: R$ 18 (em média) Texto Anterior: Redford descreve perda da inocência Próximo Texto: Discos homenageiam grandes do jazz Índice |
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