São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Normógrafo moderniza o voto de "cabresto"

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um instrumento criado pela legislação eleitoral para auxiliar o analfabeto a votar, o normógrafo, vai facilitar a prática do voto de "cabresto" nestas eleições.
O normógrafo é uma espécie de gabarito, na forma de envelope, com espaço vazado sobre o nome do candidato.
Quando a cédula é introduzida no envelope, aparecem apenas o nome do candidato escolhido pelos cabos eleitorais e o quadrinho correspondente.
Esse gabarito é usado pelos candidatos a presidente, aos governos estaduais e ao Senado. O eleitor para escolher um dos nomes que disputam esses cargos precisa apenas assinalar um "x" diante de seu preferido.
No Ceará, por exemplo, onde o eleitorado é de 4 milhões, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), só o comitê do candidato do PSDB ao governo do Estado, Tasso Jereissati, planeja distribuir pelo menos um normógrafo para cada eleitor.
Ainda segundo as estatísticas do TSE, existem 2,45 milhões de cearenses analfabetos e semi-analfabetos com título de eleitor. Nesse Estado, os candidatos do PMDB também estão recorrendo ao expediente do normógrafo para "ensinar" a votar.
O comitê de Jereissati contará com os serviços de 14 mil cabos eleitorais na distribuição dos gabaritos em todo o Estado. O candidato do PSDB lidera a disputa no Estado com 61% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
A Folha acompanhou em Fortaleza (CE) a distribuição dos normógrafos na favela do Mucuripe. Os eleitores analfabetos eram assediados para votar nos candidatos da coligação PSDB-PDT.
Os cabos eleitorais do PSDB saíram em grupos pela favela, fazendo uma espécie de "pente-fino" de porta em porta. No início da semana, cerca de 300 deles distribuíram normógrafos nas praias de Fortaleza.
O comitê de Jereissati afirmou que a distribuição dos gabaritos ocorre em vários Estados, principalmente do Nordeste, onde é grande o número de analfabetos e semi-analfabetos.
Essa modernização do voto de "cabresto" tem sua pratica legalizada pelo artigo 86 da lei 8.713/93, que regulamenta as eleições de 94. O artigo diz: "Nas eleições de que tratam esta lei será permitida a utilização de instrumentos que auxiliem o eleitor analfabeto a votar".
O TSE baixou a Resolução 14.427 regulamentando a Lei Eleitoral. O artigo 37 diz que o eleitor analfabeto "poderá utilizar-se de normógrafos que lhe facilite exercer o direito do voto".
A Direção Nacional do PT solicitou providências ao corregedor-eleitoral de São Paulo, Márcio Bonilha, para que se evite a distribuição massiva de normógrafos no Estado no dia das eleições.
"O uso do normógrafo é mais constrangedor do que uma torcida uniformizada dentro da seção eleitoral. É uma forma de indução do voto", disse Markus Sokol, da direção petista.

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