São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Candidato dá rádio com uma só estação

Aparelho sintoniza rádio do deputado

ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O deputado federal Gerson Peres (PPR-PA), 63, candidato à reeleição, distribui para seus eleitores aparelhos de rádio que só sintonizam a emissora Tocantins AM, de sua propriedade.
A emissora está instalada em Cametá (240 km a sudoeste de Belém). A distribuição de aparelhos é adotada há 16 anos por Peres, que está em seu terceiro mandato na Câmara Federal.
"Rádio-carrapato"
O "presente" aos eleitores foi batizado pelo próprio parlamentar com o nome de "rádio carrapato".
Na linguagem da zona rural paraense, carrapato é a pessoa que não desgruda da outra.
"Decidi prender meus eleitores à minha rádio para divulgar a cultura de Cametá e informá-los sobre atividades econômicas lícitas e ilícitas, como o contrabando, que continuam a existir até hoje", disse Peres.
Professor de segundo grau e advogado, Perez exerceu cinco mandatos como deputado estadual, três como federal e um como vice-governador do Pará.
Atualmente, Peres diz que a rádio tem evitado denúncias porque, segundo ele, é obrigação da polícia prender e processar os criminosos responsáveis por atividades ilegais.
O aparelho é uma invenção de um amigo de Perez técnico em rádio, que fabricou 8.000 aparelhos, distribuídos aos eleitores das áreas mais isoladas d a região do Baixo-Tocantins (leste do Pará). "Eu falo na rádio, exceto nos períodos eleitorais, quando é proibido", disse.
Para as eleições deste ano, Peres afirma que comprou 800 rádios na Zona Franca de Manaus a R$ 3,00 cada.
"Em Cametá e em toda a região do Baixo-Tocantins, a única emissora AM é a minha", disse.
"Crime eleitoral"
O advogado do PT paraense, Geraldo Lima, disse que o deputado federal Gerson Peres pode ser enquadrado em crime eleitoral por abuso de poder econômico.
Segundo ele, a distribuição de aparelhos de rádio pelo parlamentar é crime previsto no artigo 227 do Código Eleitoral: "Dar, oferecer, solicitar ou receber para si ou para outrem dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem para obter ou dar votos ou para conseguir ou manter abstenção".
Justiça
A advogada Vera Sarmento, assessora da presidência do Tribunal de Justiça do Pará, disse que distribuir radinhos pode não ser considerado crime eleitoral.
"Há políticos que distribuem camisetas, bonés, santinhos e panelas e não são acusados de crime", disse.

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