São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Tucano nega ter preconceito contra petista

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para explicar que não tem preconceito contra o petista Lula, Fernando Henrique Cardoso disse ontem ser raro uma pessoa sair "diretamente da fábrica", como seu adversário, e ser tão famosa.
"Da minha parte, só tenho apreço (por Lula)", afirmou. "Raramente no Brasil ou fora do Brasil foi possível alguém que veio, como o Lula, diretamente da fábrica, chegar à eminência que ele chegou", disse.
FHC deu essa declaração ontem pela manhã, após reunião com o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns. Lula tem se queixado do preconceito por causa de sua origem pobre.
O candidato tucano disse que Lula "é um líder nacional, um líder respeitado". FHC afirmou não saber "baseado em quê" Lula diz haver preconceito contra ele.
FHC criticou Lula por tentar dar um tom emocional em seus discursos de final de campanha. Pôs dúvidas sobre a sinceridade do petista ao levar anteontem para casa um menino de rua.
"Espero que tenha sido genuína (a atitude) dele e não só para fazer propaganda", declarou FHC. Disse que o tom emocional de Lula é "legítimo", mas criticou esse tipo de atitude.
Segundo FHC, a mudança no tom do discurso "desorienta" o eleitor. Para ele, o eleitor "fica sem saber se o candidato é cordeiro ou lobo, se quer apresentar propostas ou provocar emoção".
Fato consumado
A seis dias da eleição, o tucano já tratava ontem de sua possível vitória como um fato consumado. Disse que escolherá os "melhores" nomes para compor seu ministério.
FHC negou ter usado a expressão "notáveis" para definir os critérios da escolha de seu governo. "No Brasil se chama notáveis quando (os escolhidos) não têm partidos", afirmou.
"São os melhores. Se forem de partidos, são de partidos. Se forem sem partidos, são sem partidos", afirmou, ao explicar o critério que usará para escolher um eventual governo seu.
Ao visitar o cardeal arcebispo, FHC estava acompanhado de Mário Covas, candidato ao governo paulista pelo PSDB. Disse não ter pedido o voto do cardeal.
"Minha relação com ele é de amizade", afirmou. "Jamais perguntei a d. Paulo se vai votar em mim ou em quem quer que seja. É questão de consciência dele", disse o candidato.
Com exceção de uma única viagem, na quinta-feira à noite, a Blumenau (SC), FHC vai passar a semana em São Paulo. Na sexta, encerra a campanha com um comício em Santos.
O candidato deve receber hoje o apoio de candidatos do PMDB a governos estaduais. Divaldo Suruagy, candidato em Alagoas, encabeça a lista de adesões.
Já se considerando eleito, FHC vinha tratando com desprezo esse tipo de apoio. Dizia que preferia a adesão de setores da sociedade civil. Mas mudou de opinião.
Hoje, ele também receberá o apoio da jogadora Hortência, campeã mundial de basquetebol. Ontem, Hortência declarou apoio a Barros Munhoz, que concorre ao governo paulista pelo PMDB.

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