São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Um líder sem memória

ARNALDO MADEIRA

Coerência e responsabilidade nem sempre são atributos cultivados pelas pessoas. Os homens públicos não fogem à regra. Alguns fazem o contrário do que dizem ou escrevem porque apostam na desinformação. Outros, porque são tangidos por um incurável "Complexo de Macunaíma". Para estes, caráter e política são incompatíveis.
Prefiro crer que, apesar de jovem, o vereador Bruno Feder, líder do prefeito Maluf na Câmara Municipal, ao publicar nesta Folha, em 9 de setembro, o artigo "O criador de encrenca", tenha sido vítima de sucessivos lapsos de memória.
Em seu artigo, o líder do prefeito alega que eu, por meio de texto igualmente publicado nesta Folha, estaria incitando a "Câmara a mais um confronto com o Executivo", ao cobrar dos vereadores coerência para rejeitar veto do prefeito a projeto de minha autoria que estabelece o que pode ser considerado despesa com educação. Segundo ele, "isso" já está definido.
Desatento, o líder do prefeito certamente não leu –se leu, esqueceu– relatório do Tribunal de Contas do Município. No capítulo referente às despesas com o ensino, o TCM ressalta: "É importante a definição do conceito de despesa de ensino, para que se evite qualquer possibilidade de acomodação ao limite exigido e para que os programas de governo fiquem fiéis às imposições estabelecidas".
Em seu artigo, o líder do prefeito diz que "nas verbas para a educação não estão incluídos gastos com alimentação, transporte, assistência e infra-estrutura". Estão, sim. Se tivesse lido relatório do próprio Executivo ("Diário Oficial", 31 de agosto), relativo aos gastos com educação em 94, saberia disso.
O curioso é que, nas duas votações, em 14 e 15 de junho deste ano, o líder do prefeito votou favoravelmente ao projeto. É de se supor, portanto, que a sua memória não ande lá essas coisas. Ou que ele desconhece o teor dos projetos que vota. Ou, então, que ele muda de posição muito rapidamente.
Segundo o líder do prefeito, sou autor do projeto que retirou do Executivo a função de aprovar as operações interligadas, tornando-a uma prerrogativa da Câmara Municipal. Em primeiro lugar, não houve projeto. A pedido de vereadores, inclusive de Feder, redigi emenda que torna obrigatória a aprovação pela Câmara das operações interligadas. Foi a forma encontrada para evitar que alterações casuísticas na Lei de Zoneamento continuassem sendo feitas de forma atabalhoada.
A emenda teve 47 votos a favor –um deles de Feder. O prefeito vetou a matéria. A Câmara derrubou o veto na sessão de 4 de abril, por 35 votos. Feder votou favoravelmente à derrubada. Diante disso, começo a me preocupar com a falta de memória do líder do prefeito.

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