São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Túlio quer bater recorde do Brasileiro

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

O goiano Túlio Humberto Pereira da Costa, 25, vive dias de euforia e preocupação.
Aos 25 anos, é o artilheiro do Campeonato Brasileiro com nove gols, jogando pela maior surpresa da competição, o bem-sucedido Botafogo, que conquistou o ponto extra do Grupo B.
Quer marcar mais do que os 28 gols com que, em 1977, o atacante Reinaldo (Atlético-MG) estabeleceu o recorde da competição, até hoje não igualado.
A preocupação de Túlio é com a violência urbana. No Rio, só anda com carro nacional, um Monza, para não chamar a atenção de possíveis sequestradores. Deixou um BMW e um Mercedes em sua cidade natal, Goiânia (GO).
O atacante não se destaca só pelos gols. É um craque em auto-promoção. Batiza seus gols, participa do movimento Tuliomania, promove os jogos do Botafogo com talento de requintado marqueteiro.
Sonha em acumular seu primeiro milhão de dólares. Diz que ainda não conseguiu, nos três clubes por que passou –Goiás, Sion (Suiça) e, agora, o Botafogo.
Antes, diz que ficará contente em ser do artilheiro do campeonato deste ano.

Folha - Você é um dos jogadores brasileiros que mais sabem se promover. Desde o começo da carreira é assim?
Túlio - Desde quando jogava no Goiás eu não queria ser só um goleador, mas também explorar a minha imagem. Só que lá não havia divulgação, não era vitrine.
Folha - Você costuma batizar seus gols. Que nomes já criou no atual Campeonato Brasileiro?
Túlio - O Depenado Galo (contra o Atlético-MG), o Pato ao Tucupi (contra o Paysandu). Contra o Vitória (BA) fiz o gol Vitória, mas deu empate. Contra a Portuguesa, fiz o Gol do Ataque, porque era o ataque mais positivo do Grupo B do campeonato, o do Botafogo, contra a defesa menos vazada. Quem escolhe os nomes sou eu.
Folha - Quem são seus ídolos no futebol?
Túlio - Sempre admirei Zico, Sócrates, Falcão e Careca, mas prefiro ter só um ídolo: Pelé, o ídolo dos ídolos. Busco nele tudo que um jogador tem de ter para ser melhor. Busco o exemplo até para a maneira de me comportar.
Folha - Quantos gols você já fez como profissional?
Túlio - Até o Goiás eu contava. Tinha chegado a 150. Mas aí fui para a Suíça, fiquei dois anos e vim para o Botafogo. Hoje, por baixo, tenho 250. Dá para chegar pelo menos até os 500.
Folha - Você é um artilheiro que não faz muitos gols de faltas?
Túlio - Em todos clubes por onde passei havia o cobrador oficial, que treinava mais. Eu treinava pênaltis e jogadas ensaiadas.
Mas, no Botafogo, no dias anteriores ao jogo contra a Portuguesa (quando o jogador fez o seu único gol de falta no campeonato), comecei a treinar. Bati bem e fui escolhido como uma das opções. Como o Juninho tinha errado três ou quatro cobranças, eu disse: "Deixa eu cobrar."
Folha - Quando você descobriu que jogava bem?
Túlio - Com nove, dez anos. Éramos quatro homens em casa e sempre jogávamos pelada. Aí eu e meu irmão Télvio fomos fazer teste no Goiás. Chegamos até o profissional.
Eu me dei bem porque era centroavante. Ele não aparecia muito porque era lateral. Eu continuei e ele, vendo meu sucesso, mudou de posição e virou centroavante.
Hoje está no Goiás, mas o passe é meu. No futuro posso comprar passes de outros jogadores e me tornar empresário. Vários jogadores já me procuraram para eu comprar seus passes.
Folha - Quanto soma o seu patrimônio?
Túlio - Está todo em Goiânia. Tenho imóveis, apartamentos,casas, salas comerciais. Para carro, não dou tanta importância.
Folha - Que carros você tem?
Túlio - Lá em Goiânia, um BMW e um Mercedes. No Rio, procuro andar com carro mais simples, um Monza.
Folha - Medo de sequestro?
Túlio - Isso. Ando com carro nacional. Procuro sair apenas para o essencial. Mas vou a lugares adequados, sem perigo.
Folha - Que outros investimentos você tem?
Túlio - Vou abrir uma confecção com a minha marca, uma griffe. Primeiro em Goiânia e, depois, uma filial no Rio.
Folha - Diga cinco qualidades para ser artilheiro.
Túlio - Primeiro, boa colocação na área. Segundo, estar bem fisicamente. Terceiro, estar confiante, otimista de que vai ser o artilheiro do Brasil.
Depois, a humildade de quem vai ser o artilheiro, mas tem que respeitar os concorrentes. Por último, a união dos jogadores, para não existir ciúme. Essa união vai me fazer chegar à artilharia.
Folha - Cite um desejo como jogador de futebol?
Túlio - Quero bater o recorde de Reinaldo, para ser lembrado para sempre.
Folha - O meia Wiliam, do Vasco, não fez antidoping porque, segundo ele, não conseguiu urinar. Isso já lhe aconteceu?
Túlio - Já fiquei até as duas horas da madrugada no estádio, mas sempre consegui fazer. Para mim, isso com o William é uma coisa meio duvidosa.

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