São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Caso O.J. Simpson é a Copa do crime

DAVID DREW ZINGG
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

O palco está pronto para a peça começar. Tio Dave procura desesperadamente encontrar algum sentido no processo criminal que é alvo da mais ensandecida supercobertura do século.
Não é fácil. O estacionamento atrás do prédio dos Tribunais Criminais de Los Angeles foi dividido para abrigar fileiras e fileiras de furgões de TVs. É a versão criminal da Copa do Mundo-94.
Apesar da ONU de repórteres que baixou em Tinsel Town (Cidade do Brilho: Los Angeles), para descobrir se O.J. Simpson cometeu ou não o trabalho mais profissional de açougueiro da história recente, é fácil ter acesso a tudo aqui –menos à sala do tribunal.
Diferentemente da Copa, em que os repórteres da imprensa estrangeira foram investigados pelo simpático pessoal do FBI (a Folha registrou seu protesto enérgico), nem é preciso ter credenciais.
Falei com um sr. Yet Lock, contato de imprensa do escritório do promotor. Ele me disse: "Como qualquer outro cidadão, o sr. tem livre acesso ao prédio. Depois, me fez uma oferta que eu podia recusar –e de fato recusei".
Lock disse que os espaços de trabalho para jornalistas se esgotaram há muito tempo. Arrumaram mais espaço em trailers no estacionamento. Se eu quisesse, poderia ter mesa e linha telefônica para o computador. Fui ver o trailer: pequeno, abafado e incômodo.
Mas o que me levou a recusar foi o preço. A inventividade ianque não tem limites. Lock disse que eu poderia alugar o espaço por "apenas" 1.250 verdinhas.
Agradeci em nome da Folha, chefe. Calculei que o mesmo dinheiro, gasto conversando com fontes com a ajuda de dry martinis no Musso and Frank Grill, resultaria em mais informação.
O júri
Onde mais você pode sentar ao leme do sistema judicial e tomar a decisão fatídica, enquanto a vida de um réu famoso oscila na balança? Onde mais você pode brincar de Deus e ganhar US$ 5 por dia para isso? É só trabalhar como jurado no processo de O.J. Simpson.
Se você mora no condado de Los Angeles, é eleitor e tem carteira de motorista, mais dia, menos dia, terá o nome na lista computadorizada que o Judiciário usa para selecionar os "12 homens bons e honestos que formam um júri".
A maioria dos jurados acha fascinante. Para alguns, também é lucrativo. Após o julgamento haverá uma leva de livros, artigos e palestras de jurados que condenaram ou libertaram o suposto assassino.
Gloria Gomez, do serviço de júri daqui, me disse que os candidatos aumentaram com o caso Simpson. Outros estão ansiosos por fugir de um dever cansativo.
Este julgamento promete ser longo e complicado. É possível que os jurados sejam confinados em algum hotel, para isolá-los do contato com o maremoto da mídia.
Pedi a ela uma lista das desculpas mais usadas pelos que tentam evitar servir como jurados: 10. "Estou sendo alvo de uma investigação da CIA. Como vocês conseguiram meu endereço?" 9. "Não posso ser jurado. Minha poodle está no cio e, se eu estiver fora, o cachorro do vizinho pode acabar papando ela". 8. "Preciso cuidar das plantas". 7. "Sou contra a pena de morte e contra barganhas para libertação". 6. "O sr. X é hoje residente no mortuário de Forest Lawn". 5. "Perdi todo o meu cabelo e tenho que usar uma peruca. Não posso ficar num local fechado por muito tempo devido ao calor". 4. "Meu marido tem o mal de Alzheimer". 3. "Terei prazer em servir, se vocês puderem me dar uma carona da prisão estadual de Folsom". 2. "Estou com gripe tonta e sofri uma queda de cabeça". 1. "Tenho preconceito contra pessoas".

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