São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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Mastroianni é "sex symbol" aos 70

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

28 de setembro podia se contentar em ser o dia de nascimento de Brigitte Bardot. Não. 28 de setembro caprichou tanto que é também o dia de nascimento de Marcello Mastroianni, que hoje completa 70 anos.
Bardot no feminino e Mastroianni no masculino: os dois librianos são os maiores mitos sexuais do cinema europeu no pós-guerra. Mas, enquanto Bardot parece ter levado o cinema (e o estrelato) nas costas, como uma espécie de fardo, Marcello transpirou felicidade desde que surgiu no cinema, nos anos 40.
É na década seguinte que sua carreira engrena, quando enfileira, a partir de 1952, trabalhos com cineastas de primeiro time: Luigi Comencini, Alessandro Blasetti, Dino Risi.
A celebridade começa com "Noites Brancas", de Luchino Visconti, e se consolidada de uma vez entre 1060 e 1963, quando Mastroianni enfileira os papéis principais de "A Doce Vida" (Federico Fellini), "O Belo Antonio" (Mauro Bolognini), "A Noite" (Michelangelo Antonioni), "Vida Privada" (Louis Malle), "Oito e Meio" (Fellini), "Dois Destinos" (Valerio Zurlini), "Os Companheiros" (Mario Monicelli).
Tem mais filmes importantes aí do que muito ator de primeiro time rodou ao longo da vida. São também variados e dão conta da extensão do registro de Mastroianni: ele pode ser um anarquista combativo ou um burguês angustiado; pode participar ativamente ou entrar como um instrumento (caso de vários filmes de Fellini).
Isso é secundário. Em qualquer circunstância, sabe-se que Marcello está dando o máximo de si, plenamente feliz. Uma felicidade que transparece no trágico "Dois Destinos", que chega ao melancólico "Ginger & Fred", que Fellini fez em 1985, onde contracena com Giulietta Masina e faz o velho bailarino que, no passado, vivia de imitar Fred Astaire.
Este último filme marca um momento sublime do ator, bem mais importante do que seu trabalho em "Ciúme à Italiana", de Ettore Scola, que lhe deu o prêmio de interpretação em Cannes. "Ginger & Fred" não é apenas o fim de uma longa colaboração com Fellini: é o instante em que mostra a beleza crepuscular, com uma integridade rara.
Na melancolia de uma vida cujo fim se anuncia desde que o filme se abre, Mastroianni consegue passar para o espectador a idéia de felicidade.
É um dos atributos, diga-se, de sua condição de "latin lover" número um. A vida lhe cai bem. Na frente como fora das câmeras, sua primeira virtude é uma simpatia que se confunde com a capacidade de amar o próximo.
Mastroianni poderia reivindicar, por sua posição no cinema europeu, todas as exigências de um "divo". Nada disso. Comia junto com a equipe, a mesma comida. Divertia-se.
Essa capacidade quase infindável de se dar ao próximo, de compartilhar com eles sua vida, fez com que fora das telas fosse amado por atrizes como Catherine Deneuve (com quem teve uma filha, Chiara), Faye Dunaway, Jacqueline Bisset. Personalidades diferentes entre si, mas todas belíssimas.
Marcello Mastroianni chega aos 70 anos como o mais simples, o mais acessível, o mais simpático dos mitos do cinema contemporâneo.

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