São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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Namoro on line acaba em confusão

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Amor on line pode acabar em confusão. Principalmente quando não é correspondido. Perguntem a Andrew Archambeau, um fabricante de letreiros de Detroit, no Estado de Michigan.
Apaixonado por uma professora, ele passou a "persegui-la" com mensagens via computador. O caso foi parar na polícia, na versão eletrônica de "Atração Fatal".
A disputa judicial iniciada pela moça, que tem 29 anos de idade e prefere manter o anonimato, está sendo utilizada como exemplo de que no mundo cibernético é preciso muito cuidado com as palavras.
Afinal, o que está escrito numa tela de computador fica aberto a interpretações: é impossível definir o tom de quem digitou o texto.
O caso ganhou destaque na imprensa especializada e até no jornal "The New York Times".
O namoro de Andrew com a professora já começou eletrônico: ela selecionou o rapaz por um vídeo, entre um grupo de 1.500 candidatos, em um "clube de solteiros" de Michigan.
Os dois se interessaram um pelo outro depois do primeiro encontro pessoal. Saíram mais uma vez juntos, mas depois o namoro desandou. A professora diz que desistiu de Andrew depois que ele começou a falar em casamento e filhos.
A história só interessa aos infomaníacos pelo que aconteceu em seguida. Andrew, o apaixonado, passou a enviar bilhetes pelo correio eletrônico para a professora.
Ela não gostou e pediu que ele suspendesse a correspondência. O rapaz insistiu, dizendo que pretendia discutir a situação "publicamente" com os usuários do American Online.
O American Online é um dos serviços de comunicação por computador que funcionam na Estados Unidos. O usuário paga uma taxa e pode consultar bancos de dados, fazer compras, ou trocar mensagens com outros assinantes.
Depois de nova troca de mensagens e recados na secretária eletrônica, a professora chamou a polícia e decidiu acusar Andrew de "stalking", ou seja, de persegui-la com más intenções.
É justamente em torno desse conceito que a batalha judicial vai acontecer: embora admita que tenha se comportado como um adolescente, Andrew diz que sempre teve boas intenções.
O caso é o primeiro do gênero desde que o correio eletrônico tornou-se mania nacional.
Os vários serviços comerciais têm hoje cerca de 5 milhões de usuários nos EUA. Diante do computador você compõe um texto, acessa uma das redes e dispara a mensagem, identificando o destinatário por um número.
Quando ele liga seu computador em outra cidade ou país, recebe um aviso de que há uma mensagem aguardando por ele.
As leis de "stalking" nunca tinham sido aplicadas em caso de comunicação eletrônica. Na verdade, elas foram criadas depois que uma conhecida atriz de TV daqui foi assassinada por um fã apaixonado, que passava dia e noite observando a moça à distância. Se condenado, Andrew Archambeau poderá pegar até um ano de cadeia.
A professora alega que ficou com medo por causa da insistência do rapaz, que em um período de pouco mais de dois meses enviou a ela 20 mensagens de correio eletrônico, além de dez cartas e pacotes pelo correio normal. O rapaz também foi pelo menos uma vez à escola onde a moça trabalha.
O advogado de Andrew diz que ele está protegido pela primeira emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão.
"Se você deixar, serei o melhor homem, amigo e amante que você já teve", dizia uma das mensagens. A moça respondeu: "Se você não me esquecer, vai se arrepender. Considere isso um alerta".
O caso pode formar jurisprudência para outras situações em que o destinatário do correio eletrônico se sinta constrangido ou ameaçado por alguma mensagem.

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