São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Estudantes secundaristas ressuscitam CPC

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Peça: Querem Bater Minha Carteira
Autores: núcleo do CPC da Umes
Onde: Teatro Oduvaldo Vianna Filho (r. Rui Barbosa, 323, tel. 011/ 289-0047, Bela Vista, região central de São Paulo)
Quando: a partir de sábado, às 20h; de terças a domingos, às 20h
Quanto: entrada franca

Uma divisa da arte engajada dos anos 60 ressurge com vigor de primeira vez. Está de volta em São Paulo o CPC (Centro Popular de Cultura).
A entidade foi criada em 1961 pela UNE (União Nacional de Estudantes) com o objetivo de conscientizar as massas para a cultura nacional. O regime militar desativou-a em março de 1964. A intelectualidade se encarregou de refutá-la nos 20 anos seguintes. Agora, como que por encanto, o CPC encontra viçosos praticantes.
São estudantes secundaristas, com idade média de 16 anos e verde-amarelismo de fazer gosto a fundadores do gênero, como o poeta Ferreira Gullar e o compositor Carlos Lyra.
O contorno ideológico dos novos cepecistas é mais ambíguo do que o de seus antecessores, quase todos comunistas.
Um pouco do perfil desses jovens será revelado no sábado, com a inauguração de um teatro de arena inteiramente devotado às produções do CPC. Ali, estréia o musical "Querem Bater Minha Carteira", escrita pelos dez membros do núcleo da entidade.
O teatro tem capacidade para 130 pessoas e foi batizado com o nome do dramaturgo que forneceu a base teórica do antigo CPC: Oduvaldo Vianna Filho.
A peça é dirigida pelo cineasta Denoy Oliveira, 60, outro dinossauro do velho centro. O texto pretende ser simultaneamente um libelo contra a cultura de massa estrangeira e uma defesa do controle da carteira de estudantes pelas entidades representativas.
Bem nacionalista, a peça começa com um pagode: "Já decidi,/ precisamos de cultura/ futebol e coisa e tal/ no domingo um bom teatro/ ou um filme nacional/ também serve americano."
Segundo Cassandrha Lesinah, 21, diretora cultural do núcleo e estudante do terceiro colegial da Escola Estadual Mauro de Oliveira, o grupo é apartidário. "Fomentamos a cultura nacional sem xenofobia", afirma. "Para isso, vamos reunir as mais diferentes tendências da intelectualidade."
Cassandrha distingue o primeiro do segundo CPC: "O velho tinha origem universitária e intelectuais. O nosso veicula a produção dos estudantes secundaristas. Intelectuais são convidados para nos orientar. Hoje, os secundaritas são muito mais ativos e agressivos que os universitários. A UNE é uma entidade fantasma, sem expressão junto aos estudantes."
O CPC 2 se instalou em março último, exatamente 30 anos após a morte do CPC 1, numa saleta no primeiro andar do prédio da Umes (União Municipal dos Estudantes Secundaristas), no centro da cidade, onde foi instalado o teatro ao custo de R$ 40 mil. O dinheiro vem da venda de carteirinhas e de doações do governo estadual.
Em seis meses, Cassandrha já editou um livro e quatro cadernos teóricos, promoveu um concurso de poesias e produziu dois vídeos.
O livro é de poemas do sambista Nelson Sargento. Os "Cadernos do CPC" trazem peças dos anos 60 e dois textos de Sérgio Torres, dirigente do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro, de tendência stalinista e quercista).
Um dos vídeos, "Pega Ladrão", mostra "cenas vibrantes da luta dos estudantes contra as privatizações da Cosipa em São Paulo e Açominas em Belo Horizonte", conforme reza a contracapa do produto, distribuído nas cerca de 500 escolas afiliadas à Umes.

LEIA MAIS
sobre o CPC à pág. 5-3

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