São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
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Salvo pela derrota

Salvo pela derrota
No próximo dia 4 de outubro o PT será

LUÍS NASSIF

No próximo dia 4 de outubro o PT será salvo pela derrota. Será a única maneira de superar a atual crise de adolescência e cumprir um grande papel político nos próximos anos.
O PT foi o primeiro partido brasileiro criado a partir das organizações sociais, com o compromisso de montar estruturas não-governamentais de controle do Estado.
O partido vicejava graças a um não-dogmatismo e a uma repulsa a qualquer forma de centralização e de interferência estatal. "O Estado é intrinsecamente um inibidor do desenvolvimento da sociedade", admite Luiza Erundina, uma de suas fundadoras.
A criação do partido surgiu como mera decorrência da necessidade de uma organização que servisse de canal político para esses movimentos sociais. Refletindo essa desconfiança do PT contra esquemas centralizadores, havia uma estrutura de núcleos de base, incumbida de controlar o partido e manter intocados os princípios originais.
Na medida em que o PT ganhou dimensão política, a organização dos núcleos de base foi esvaziada. Interrompeu-se o principal fluxo de revitalização do partido, deixando-o à mercê de grupos organizados, sem expressão eleitoral, sem compromissos com a organização social, sem visão maior de país, que passaram a manipular os militantes com a mesma malícia dos políticos demagogos convencionais.
Parecia a repetição pela enésima vez do grande drama brasileiro do século, de estruturas políticas e burocráticas sufocando a organização social.
Quando a campanha do impeachment mudou a ética pública, na hora de colher os frutos, de um dos pioneiros da nova ética, o partido passou a agir oportunisticamente. Julgando que a eleição de Lula eram favas contadas, abandonou os ideais parlamentaristas, descuidou-se da constituinte exclusiva, deixou para segundo plano as propostas de controle social sobre a saúde, trocou a cidadania pelo corporativismo.
Se Lula tivesse vencido as eleições, esses vícios se estratificariam e o país teria de aguardar mais dez anos para aparecer outro PT.
Com a derrota, o partido emergirá das cinzas e ainda vai se constituir em elemento essencial nessa grande luta nacional para subordinar o Estado à nação.
Afinal, o PT é um partido murrinha, mal humorado, radical, chato, seja o que for. Mas se não existisse, teria que ser inventado.

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