São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Nadador alia recorde à rotina de empresário na nova Rússia

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

As mudanças políticas e econômicas provocadas pelo colapso da ex-URSS começam a gerar lucros no esporte da nova Rússia, o maior dos países que resultaram da divisão do Estado comunista.
Isso foi o que disse em entrevista à Folha o nadador russo Eugeni Sadovy, 21, um dos expoentes mundiais desse esporte.
Com 18 anos, ele conquistou três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona –nos 200 m e 400 m livre e no revezamento 4 x 200 m livre.
Na Olimpíada, ele competiu pela equipe da Comunidade dos Estados Independentes –que aglutinou os atletas nascidos na extinta União Soviética.
"Com o fim da URSS tornei-me um dos donos do clube onde nado, o Volvogrado, e passei também a ganhar dinheiro com o esporte", afirma Sadovy.
Com 1,88 m de altura e a cabeça raspada, Sadovy ficou conhecido como "enguia" em Barcelona.
Nadou pouco em 94, segundo ele, vítima de uma gripe contraída após os Jogos da Amizade, em julho. Nega que tenha sido mononucleose, como se falou na época.
Sadovy disse, entretanto, que tem saúde para repetir as três medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Atlanta (EUA), que serão disputados no ano que vem.
Esta será a primeira participação da Rússia como país numa Olimpíada desde a Revolução Comunista de 1917.
Sadovy está no Rio de Janeiro para participar de um torneio de internacional natação que vai acontecer entre 8 e 15 de janeiro.
Ele será disputado numa piscina construída sobre as areias da praia de Copacabana.
Além dele, a equipe russa deve contar com Alexander Popov, medalha de ouro em 1992 e atual recordista mundial dos 50 m livre e 100 m livre, a prova mais nobre da natação.
As provas de natação integram o Festival Olímpico de Verão, que ocorrerá no Rio entre este mês e março. Serão disputadas, ao todo, 22 modalidades esportivas.
Além dos nadadores, a Rússia exibirá na piscina duas duplas de nado sincronizado.
Leia a seguir trechos da entrevista do nadador Eugeni Sadovy à Folha.(Mário Magalhães)

Folha - O que está mudando no esporte russo com as transformações na política e na economia do país?
Eugeni Sadovy - Acho que as mudanças têm sido para melhor. Antigamente, nenhum esportista podia ganhar dinheiro no esporte. Isto agora já é possível.
Folha - É o seu caso?
Sadovy - Sim. Tornei-me um dos donos do Clube de Natação de Volvogrado, que antes pertencia ao Estado. Agora, tenho lucro com a atividade do clube. Apóio as mudanças no país.
Folha - O que lhe parece nadar numa piscina de 25 m de comprimento, revestida com azulejo, construída nas areias de de uma praia (Copacabana)?
Sadovy - É a primeira vez que vou nadar numa piscina assim. O que posso dizer é que será, no mínimo, muito interessante.
Folha - Como você está treinando para a competição?
Sadovy - Desde quinta-feira, quando cheguei ao Rio de Janeiro, nado diariamente entre 8h30 e 11h e das 15h30 às 17h30 num clube (Vasco da Gama).
Folha - A delegação russa –dez nadadores e quatro integrantes da comissão técnica– está hospedada num hotel na orla de Copacabana. O que vocês farão no Réveillon?
Sadovy - Sabemos que haverá uma queima de fogos e vamos ver. Também pretendemos assistir ao show do Rod Stewart na praia.
Folha - Você se informa sobre os movimentos de jovens na Europa? O que pensa do recrudescimento dos movimentos facistas, inclusive na Rússia?
Sadovy - Quero deixar claro que a cabeça raspada em Barcelona não tem nada a ver com "skinheads" (carecas), não tem relação com política. Não tenho nada a ver e não me identifico com esses movimentos.

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