São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
Próximo Texto | Índice

Vendas de máquinas agrícolas explodem

JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O aquecimento do mercado de máquinas agrícolas em 94 vai acirrar a guerra entre os fabricantes este ano. O setor faturou perto de US$ 3 bilhões no ano passado, 72% mais que em 93.
Estimuladas pela explosão nas vendas de tratores e colheitadeiras, as empresas planejam investimentos na ampliação da capacidade de produção de suas fábricas.
Muitas máquinas deixaram de ser vendidas nos últimos meses porque faltou fôlego à indústria.
Alguns modelos demoraram até três meses para ser entregues aos produtores, por causa da falta de componentes como pneus.
Nenhuma empresa revela quais os novos modelos que colocará no mercado este ano.
A Iochpe-Maxion, líder do setor, quer manter e, se possível, até aumentar sua fatia de 45% registrada em 94 no mercado de máquinas. Há três anos a empresa detinha quase 37% desse mercado.
Como trunfo no desenvolvimento tecnológico, a Maxion conta com o sistema eletrônico de controle da parte hidráulica dos tratores de 85 a 150 cavalos, lançado em 94 simultaneamente no Brasil, Europa e Estados Unidos.
"Os lançamentos previstos para 95 vão acompanhar a evolução tecnológica da agricultura norte-americana, que é a que mais se assemelha à brasileira", diz Nestor Stapaffoli, diretor da Iochpe-Maxion.
Atuando apenas no segmento de tratores, onde detém a segunda posição, a Valmet tem como meta elevar sua participação nas vendas de 27% para 30%.
"Os nossos concorrentes já atingiram a sua capacidade máxima", avalia Jak Torreta Júnior, gerente de marketing da Valmet.
Não é o que pensa Valentino Rizzioli, presidente da New Hollland, empresa adquirida pelo grupo Fiat junto à Ford em 91.
"Vamos continuar crescendo sobre os nossos concorrentes em 95", diz. A New Holland pretende abocanhar pelo menos 33% do mercado de máquinas, dez pontos percentuais a mais que em 94.
No ano passado, a empresa assumiu o primeiro lugar nas vendas de colheitadeiras, garantindo uma fatia de 37% nesse mercado.
Segundo Persio Luiz Pastre, diretor da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a indústria vendeu cerca de 46 mil máquinas em 94, com incremento de 73% sobre 93.
No setor, a expectativa é de que este ano esse mercado cresça de 10% a 15%, o que significa uma venda total de até 53 mil máquinas agrícolas.
O incremento vai ser bem menor do que o registrado em 94, mas partirá de um patamar mais alto, próximo dos melhores resultados obtidos nos anos 70 e 80.
Para Stapaffolli, os recursos da Finame, a estabilização dos preços das commodities e o aumento na produção de grãos no Centro-Oeste e no Nordeste foram os principais motivos da maior comercialização de máquinas.
Além desses fatores, Torreta Júnior assinala que a introdução da URV (Unidade Real de Valor) a partir de março passado estimulou as vendas.
"O mercado balizado pelo dólar facilitou o planejamento das compras por parte dos agricultores", afirma.
Em julho, primeiro mês de vigência da nova moeda, o real, houve uma pequena retração em função de incertezas quanto ao novo plano econômico.
A partir de agosto, porém, o mercado voltou a se aquecer e manteve praticamente em todos os meses um crescimento acima de 70% na comparação com 93.
Stapaffolli acredita que a necessidade da agricultura por tratores e colheitadeiras é maior do que o total comercializado em 94.
O potencial de consumo de máquinas no Brasil varia de 40 mil a 45 mil unidades, de acordo com Torreta Júnior.
"Estes números representam a necessidade do campo para manter a frota em bom funcionamento", diz ele.
Como a frota caiu das 600 mil máquinas em meados da década de 80 para 500 mil unidades atualmente, analisa o diretor da Valmet, as vendas precisam alcançar pelo menos 50 mil máquinas anuais.
Contribuiu, ainda, para o aumento das vendas no ano passado a elevação dos recursos da Finame, a agência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que financia a aquisição de máquinas agrícolas.
O montante de recursos colocado à disposição dos agricultores saltou de US$ 543 milhões em 93 para US$ 840 milhões em 94.
O chefe da assessoria de planejamento da Finame, Edson Luiz Moret, prevê que a agência libere mais de US$ 1 bilhão este ano.

Próximo Texto: Exportações crescem 33,1% em 1994
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.