São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Sem caixa, Covas vai parcelar salários

DA REPORTAGEM LOCAL

O salário dos funcionários públicos do Estado de São Paulo deverá ser pago em até três parcelas para quem ganhar acima de R$ 300,00, segundo André Franco Montoro Filho, secretário do Planejamento.
"O valor exato ainda está sendo calculado", disse ele –e depende de um acerto entre o Banespa e Tesouro em relação à verba do ICMS, que normalmente fica retida no banco por dois dias.
Em princípio, a idéia do governo é pagar R$ 300,00 a todos os servidores na próxima sexta-feira –com isso seriam atendidos 70% dos servidores, segundo Montoro Filho. Quem ganha acima disso receberia R$ 200,00 no dia 13 e a diferença no dia 20.
Haverá atraso pelo menos até março, segundo o secretário do Planejamento. "Não existe possibilidade de estabilizar o quadro antes de abril", afirmou.
A equipe do governador Mário Covas foi informada na última quinta-feira que não haveria dinheiro suficiente para pagar o salário integral do funcionalismo na próxima sexta-feira.
O legado financeiro do governo Fleury ameaça provocar a primeira crise entre o funcionalismo e o governador Mário Covas.
Inquietos, dirigentes do sindicatos do servidores disseram ontem à tarde que não aceitam o parcelamento do pagamento dos salários.
"Os salários já são baixos. A notícia caiu como uma bomba e será automática uma reação", afirmou Ângelo D'Agostini, 31, do Conselho das Entidades dos Servidores Públicos do Estado.
Os sindicalistas se reúnem hoje com Miguel Reale Jr., 50, novo secretário da Administração.
"Não pode haver greve. Em dois dias, a administração Covas não pode ser penalizada pelo quadro lastimável que o governo Fleury deixou", adiantou Reale.
Já para o ex-secretário da Administração, Avanir Galhardo, 53, há "uma bolha confortável" para o pagamento dos servidores.
"A arrecadação do ICMS aumenta com o Natal e o novo governo ainda vai receber o IPVA. Em dezembro foi arrecadado R$ 1,06 bilhão e R$ 640 milhões foram para a folha", disse Galhardo.
Ele sugeriu que, se for preciso, o parcelamento por no máximo "quatro dias" deve recair sobre os servidores "mais bem pagos" –das universidades, estatais, Tribunal de Contas, Judiciário e Assembléia Legislativa.
Já foram definidas algumas medidas de emergência para enfrentar a crise: a nova administração fará em caráter de urgência a atualização do cadastro geral de imóveis do Estado para vender bens e assim ter como arcar com compromissos já assumidos.
"Vamos ter que desmobilizar ativos para pagar dívidas", declarou Montoro Filho.
"Haverá uma frustração provisória da população, mas não há outro jeito", afirmou. O governo Covas planeja também um ajuste fiscal, o enxugamento da máquina administrativa –revendo comissionamentos– e o fim do Baneser.
Confronto
A cerimônia de transmissão de cargos nas secretarias de Planejamento e de Governo, que agora tem como titular Antônio Angarita, teve mais um "round" na guerra entre as administrações Fleury e Covas.
José Fernando da Costa Boucinhas, que acumulava as pastas da Fazenda e do Planejamento no governo Fleury, disse que "a ética e a transparência não têm donos".
Boucinhas fez a afirmação logo depois do discurso de Robson Marinho, titular da Casa Civil de Covas. Marinho insistira em sua fala que a nova administração paulista terá como meta principal a transparência de seus atos.
Marinho destacou o "caráter político" do governo Covas. Disse também que as práticas e métodos políticos terão que sofrer modificações. "É evidente que temos divergências de procedimentos com o governo Fleury", declarou.

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