São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Plano brasileiro é melhor que mexicano

ANDRÉ LAHÓZ
ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO

A recente crise cambial mexicana traz ensinamentos importantes ao Brasil. Mas é preciso cuidado ao comparar os países, que possuem diferenças em seus sistemas políticos e em suas economias.
Os planos de estabilização adotado por ambos contam com a âncora cambial, com a diferença de que o México iniciou o seu plano em 1988 e o Brasil, há seis meses.
A idéia de ancoragem cambial é fazer com que a cotação do dólar não seja reajustada ou que o reajuste seja menor do que a inflação. Isso faria com que os preços aos poucos deixassem de subir.
Olhando assim, o plano mexicano é um sucesso. A inflação caiu desde sua implantação (de 167% ao ano em 87 para 4,6% em 93).
O problema é que, como os preços demoram para cair, o dólar fica barato. Assim, as importações vão ficando baratas, resultando um déficit na balança comercial (de US$ 11,2 bilhões em 91, US$ 20,7 bilhões em 92 e US$ 18,9 bilhões em 93). O México só conseguiu manter esse desequilíbrio por tanto tempo porque manteve sua taxa de juros alta, atraindo capitais para o país. Mas boa parte desse dinheiro é o que se chama de hot money, ou seja, dinheiro especulativo que deixa o país assim que detectar algum problema.
Foi o que ocorreu em 1994. A guerrilha no Estado de Chiapas e assassinatos de políticos assustaram o investidor estrangeiro, que saiu do país. O México ficou sem dólar, não podendo fazer frente aos compradores desta moeda. O resultado foi a desvalorização de 42% desde o último dia 19.
O México dá assim dois ensinamentos importantes. O primeiro é mostrar dificuldades de consolidar um plano de estabilização. O país viveu momentos de euforia nos primeiros anos de estabilização –semelhante ao Brasil hoje. A consolidação da estabilização é bem mais difícil.
O país mostra também os riscos da valorização do câmbio. Se a valorização produz uma queda forte da inflação, produz também um desequilíbrio em conta corrente que se acumula com o tempo.
O México vai pagar a conta desse desequilíbrio. Não estão afastadas as possibilidades de volta da inflação ou de uma quebradeira de empresas e bancos.
Mas há diferenças grandes entre Brasil e México. Não dá para afirmar que o que ocorreu no México acontecerá no Brasil.
Em primeiro lugar, o Brasil avançou muito mais em sua transição política rumo a uma democracia. O México é comandado há 65 anos pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), e apesar do crescimento da oposição e da realização de eleições muito mais limpas do que o normal em 1994, ainda há muito o que fazer no campo político.

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