São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Câmbio desestrutura exportador, diz empresário

FERNANDO CANZIAN
DA REDAÇÃO

O Plano Real atravessa uma fase "delicada" que pode trazer obstáculos "a curto prazo" no combate à inflação.
Segundo o empresário Hugo Miguel Etchenique, presidente do grupo Brasmotor –que reúne a Brastemp, Consul, Embraco e Semer– o governo está usando o câmbio e os juros como um expediente "casuístico", que pode desestruturar o esforço exportador da indústria nacional.
Prevendo um faturamento de US$ 1,4 bilhão para 1994, Etchenique, em entrevista à Folha, diz estar perdendo "muito dinheiro" com a atual situação cambial e diz temer a volta da inflação com as pressões salariais e de aumento de matérias-primas.

Folha - Qual sua avaliação sobre o encaminhamento do plano?
Etchenique - Estamos com problemas no curto prazo. Entramos em uma fase muito delicada, onde o plano não pode continuar sendo sustentado somente por políticas cambial e monetária. É urgente adotar as reformas estruturais.
E temos o mais sério dos problemas, que é o câmbio. Nós estamos perdendo muito dinheiro para manter nossas exportações.
Mantida como está, a situação atual pode desestruturar boa parcela da base industrial do país.
Folha - O sr. poderia detalhar como suas empresas estão sendo afetadas pelo câmbio?
Etchenique - No caso da Embraco temos 12% do mercado mundial e cerca de 70% da produção é exportada. De uma hora para a outra, estamos vendendo nossos produtos no mercado externo com perdas de até 17%.
Folha - Mas o governo indicou que não mexe no câmbio.
Etchenique - Mas vão ter que encontrar uma saída. O Brasil precisa definir quais os setores onde interessa manter-se exportador e montar uma política que resolva os problemas. Não se pode tratar este problema de forma casuística.
Folha - O sr. acha que o governo está criando um problema maior a longo prazo para emendar uma situação imediata desfavorável?
Etchenique - O governo ainda está tranquilo porque tem enormes reservas cambiais. Mas de onde é que essas reservas saíram? Reservas que permitem ao país tomar medidas de estabilidade econômica? Saíram do setor exportador.
Por outro lado, ser forte exportador é essencial para ser moderno. Se você exporta é porque seu produto é competitivo.
Folha - Qual é a situação nas outras empresas do grupo?
Etchenique - Na Brastemp, Consul e Semer, que fabricam produtos da linha branca, as exportações representam 15% da produção. O peso é muito menor do que o que temos na Embraco. Temos dominado toda a área do Mercosul, e, com um câmbio valorizado, está ficando complicado.
Folha - O sr. teme importados?
Etchenique - Não.

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