São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Pagú menciona tortura

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O prontuário da escritora Patrícia Galvão, a Pagú, é extenso. Tem mais de 200 páginas, cheias de interrogatórios, relatos, fotos e textos do próprio punho da escritora. Ele cobre duas décadas de atividade de Pagú, de 1931 a 1950.
Era considerada comunista de "alta periculosidade", assim como um de seus maridos, Oswald de Andrade (leia texto ao lado). Foi presa duas dezenas de vezes por militância e distribuição de panfletos. Até mesmo o seu passaporte foi recolhido pela polícia política e permanece no arquivo.
Um informe reservado de dezembro de 1934 descreve-a assim: "Suspensa pelo PCB em 1932/33 por ser considerada descontrolada e ligada a elementos reacionários, bem como 'seduzível' por elementos do partido, como Miguel (José Villar Filho), que por causa de suas intimidades relaxava e sabotava o trabalho partidário."
Em interrogatório de fevereiro de 1936, Pagú se refere à tortura sofrida nas dependências da Ordem Social (como era chamado o Deops): "Disse que na Ordem Social foi esbofeteada pelo inspetor Apolonio (...) que na Ordem Social mostraram à declarante papéis que lhe não pertenciam (...) que o inspetor Apolonio, quando esteve só com a declarante, afirmou-lheque iria fazer tudo para desmoralizá-la". Nos anos 60, o Deops eliminou referências à tortura.
A última notícia que se tem de Pagú no Deops data de setembro de 1950. Com 40 anos de idade, ela foi presa em flagrante no centro de São Paulo, quando escrevia "no chão, com tinta branca, lavável, dizeres referentes à propaganda do Partido Socialista Brasileiro". Ela escreveu: "Contra os imperialismos russo e americano".
(LAG)

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