São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco dos réus

O Banco do Estado de São Paulo (Banespa), através do Banespa Serviços Técnicos e Administrativos (Baneser), contratara nada menos que 1.390 funcionários para a sua presidência. Cada um recebendo em média R$ 7.194. O interventor do Banco Central já providenciou a demissão da matula. É decisão que se deve aplaudir, especialmente pela sua rapidez. Mas é crucial ir adiante, e ir fundo.
É inegável que a cultura política brasileira notabilizou-se ao longo do tempo pelo compadrio, a proteção excessiva ou injusta que os mandatários na prática se concederam. O jeitinho brasileiro na política resvalou sempre para a acumulação desses entulhos que não raro escondem favores imorais.
O caso Banespa, pela gravidade dos desequilíbrios estritamente financeiros, pode obrigar –como já está ocorrendo– a exposição dessas mazelas de ordem ética, administrativa e política. Foram 1.390 apaniguados sob a presidência do banco estadual? Pois é então urgente que se esclareça quem são esses privilegiados, como e por quem foram contratados, que serviços prestaram, se é que prestaram.
Deve-se evitar que a operação de saneamento do Banespa fique restrita a cortar gordura (agências, pessoal, despesas perdulárias etc.). Não se trata apenas de reequilibrar o caixa da instituição. Pois não é difícil imaginar que os desarranjos têm origem na política. Se não houver portanto uma "politização" da intervenção, o mal não será cortado pela raiz, nem para sempre.
Evidentemente, essa politização não depende exclusivamente da ação do Banco Central, embora possa beneficiar-se dela. A rigor, exigirá também o envolvimento do Judiciário e talvez até mesmo do Legislativo na apuração de responsabilidades criminais e administrativas. O BC deve trazer à luz do dia os descalabros praticados. Mas os paulistas só poderão pagar impostos e confiar em seus mandatários se se puder, de modo radical e definitivo, colocar os banqueiros da fisiologia no banco dos réus.

Texto Anterior: O discurso de posse
Próximo Texto: O povo na TV
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.