São Paulo, quinta-feira, 5 de janeiro de 1995
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Senado quer trocar Arida por Lucena

GUSTAVO PATÚ; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma rebelião contra o governo, organizada por senadores, provocou a primeira derrota do presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso.
Não foi possível aprovar, em uma primeira tentativa de votação, a indicação de Pérsio Arida para a presidência do Banco Central e de Francisco Lopes para uma diretoria do órgão. Nova tentativa de aprovar os nomes foi marcada para a manhã de hoje.
A aprovação de Arida foi condicionada à votação, pela Câmara, do projeto que anistia o senador Humberto Lucena (PMDB-PB), presidente do Senado, da cassação por crime eleitoral.
O grupo de senadores "em greve" quer empenho do governo na aprovação da anistia.
No plenário havia 40 senadores, faltando apenas uma presença para o número mínimo exigido. Houve uma tentativa de votação, em que 36 senadores votaram sim, 3 foram contrários e 1 se absteve.
Logo ao lado do plenário, no salão onde são servidos café e biscoitos, sete senadores se recusavam a comparecer à votação: Alexandre Costa (PFL-MA), Magno Bacelar (PDT-MA), Ronaldo Aragão (PMDB-RO), Alfredo Campos (PMDB-MG), Lucídio Portella (PPR-PI), Carlos Patrocínio (PFL-TO) e Saldanha Derzi (PRN-MS).
Derzi, ao notar a presença de jornalistas, fez o gesto com os braços conhecido como "banana". "Não estamos fazendo nada escondido", disse o senador.
Também organizaram o motim os senadores Ney Maranhão (PRN-PE) e Ney Suassuna (PMDB-PB). Suassuna, porém, acabou participando da votação para não prejudicar Lucena.
Como não houve quórum, nova votação foi marcada para o início da noite. Depois de uma hora de espera, Lucena encerrou a segunda sessão às 19h30, quando havia apenas 31 senadores no plenário.
"Isto mostrou que falta uma liderança, falta direcionamento do governo", afirmou o deputado Jackson Pereira (PSDB-CE), que acompanhava a sessão.
"Não votaremos o Arida enquanto o governo continuar nesse jogo de empurra", disse Ney Maranhão, tornado inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral pelo mesmo motivo de Lucena –uso indevido da gráfica do Senado.
Alexandre Costa e Magno Bacelar são acusados da mesma irregularidade. Ney Suassuna é suplente de Antônio Mariz, eleito governador da Paraíba e também acusado de uso indevido da gráfica.
Os senadores envolvidos no motim dizem considerar Arida "uma excelente escolha" para presidir o Banco Central. "É o melhor nome possível", disse Suassuna.
A recusa dos senadores em votar a indicação de Arida já era clara ontem às 14h30, hora marcada para o início da sessão no Senado. Quem falava em nome dos amotinados era Ney Maranhão.
Por volta das 17h, os senadores deixaram o plenário sem quórum. Lucena ainda tentou convencê-los a votar a indicação de Arida. "Vocês vão me deixar mal", alegou.
A votação do projeto de anistia à Lucena na Câmara está marcada oficialmente para o esforço concentrado que começa no dia 17.
Mas a disposição do presidente da Casa, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), é de deixar a apreciação do projeto para o novo Congresso, que assume em fevereiro.

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