São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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Clubes profissionalizam 'olheiros'

MÁRIO MOREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os "olheiros", caçadores de jovens talentos que indicam jogadores aos grandes clubes brasileiros, estão em fase de profissionalização.
O São Paulo, por exemplo, tem um "olheiro" oficial –um funcionário especialmente contratado para descobrir futuros craques: é Alceu Rodrigues, o Banha, 55.
Após trabalhar como treinador de divisões inferiores em diversos clubes do interior –inclusive o Matsubara (PR), que tem tradição em revelar jogadores–, ele chegou ao São Paulo no início de 94.
"Às vezes, prefiro ver um jogo entre moleques do que uma final de campeonato. Onde vejo uma bola rolar, eu me sento para olhar", afirma.
Além do trabalho de busca, Banha é responsável pela "peneiragem" dos garotos indicados ao clube por outros "olheiros" de sua confiança.
No caso do Guarani, esse processo de profissionalização deverá se iniciar agora, em outros moldes, por iniciativa do seu principal "olheiro".
Marco Antônio de Paula, o Marquinho, 30, mora em Ilha Solteira (220 km a noroeste de São Paulo), onde dirige uma escolinha de futebol da prefeitura local.
Torcedor do Guarani e ex-jogador do clube, Marquinho costuma indicar iniciantes para o time campineiro.
Foi ele quem levou, por exemplo, o atacante Luisão –destaque no último Campeonato Brasileiro– para o Guarani.
A partir dessa indicação, Marquinho pretende mudar seu relacionamento com o clube.
"Antes, eu me sentia recompensado por ajudar o time pelo qual torço. Agora, vou passar a pedir algum dinheiro. O Luisão vale hoje US$ 3 milhões, mas saiu quase de graça para o Guarani", disse.
Segundo o "olheiro", a relação com o clube já começou a mudar. "Tive um prejuízo de R$ 18 mil com um bingo que montei em Ilha Solteira e o Guarani me socorreu", conta.
Não foi tão simples, porém, obter esse "socorro". "Ameacei começar a mandar jogadores para o Corinthians e o São Paulo e o Beto Zini (presidente do Guarani) percebeu o que podia perder."
Marquinho admite que, quando indica jogadores para outros clubes do interior, a remuneração sempre fez parte do negócio.
"Aí, recebo de R$ 4.000 a R$ 6.000, dependendo do jogador. Às vezes, faço um empréstimo por certo período e recebo menos."
"Esse tipo de empresário de garoto é coisa recente, de uns três anos para cá", afirma Pupo Gimenez, 62, técnico dos juniores do Corinthians.
"Quando vê um garoto se sobressaindo, ele logo consegue uma procuração dos pais para negociá-lo com algum clube", diz o técnico.
Segundo Gimenez, o próprio Corinthians utiliza tais serviços.

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