São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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Não existe crise

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – O presidente Fernando Henrique Cardoso não conseguiu ontem, mais uma vez, aprovar o nome de Pérsio Arida para a presidência do Banco Central. Tradução da crise: não existe crise. Simples entender.
A derrota no Senado não demonstra fragilidade do novo presidente. E por motivos óbvios: nessa época do ano, a frequência é mesmo baixa. Ainda mais agora que, com uma nova safra de parlamentares, houve uma gigantesca renovação de deputados e senadores.
O governo ainda não se instalou. Não escolheu seus líderes na Câmara e no Senado. De resto, é perda de tempo negociar com um Congresso velho, em que espertos querem tirar um naco de Fernando Henrique, desesperados por não terem sido reeleitos. Qualquer contínuo do Congresso conhece esse jogo.
Não é só perda de tempo, mas uma burrice. Até porque a equipe econômica é a mesma. O ex-presidente do Banco Central virou ministro da Fazenda. Nenhuma decisão importante deixará de ser tomada: o presidente interino do BC, Gustavo Franco, está perfeitamente entrosado. É um dos principais engenheiros do Plano Real e considerado um economista altamente competente.
O problema, aqui, é moral. Senadores usam como pretexto a votação da anistia na Câmara a Humberto Lucena para aprovar o nome do novo presidente do Banco Central. Se é já discutível defender a anistia de Lucena, indecente configura-se subordinar o interesse da nação a um assunto corporativo.
Pior para eles. Deixam o Senado com a imagem de espertalhões desclassificados. É gente que nunca deveria ter sido eleita para nada. No caso, a nação ganha mais com sua ausência do que presença.
PS – É a primeira trombada de bastidores de José Serra, segundo apurou o repórter Lucas Figueiredo, da Folha. Apesar de ocupar o Ministério do Planejamento, ele quer fazer o presidente do Conselho de Política Exterior. Recebeu um "chega pra lá", sem direito a sorrisos, da ministra Dorothéa Werneck. Apesar de ser mulher, ela sabe falar grosso.

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