São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Maciel vira coordenador político de FHC

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; FLÁVIA DE LEON
EDITOR DO PAINEL

FLÁVIA DE LEON
Na falta de um ministro para exercer as funções de articulador político do governo, o vice-presidente Marco Maciel (PFL), 54, está ocupando o espaço.
Ele já fez várias reuniões com deputados e presidentes de partidos e organiza outras tantas para o final do mês.
Conhecido por sua paciência quase inesgotável, Maciel é um dos poucos membros do governo que não se preocupa, por exemplo, com a morosidade do Congresso em aprovar os projetos do governo e o nome do presidente do Banco Central, Pérsio Arida.
O vice-presidente cravou até uma frase para justificar a morosidade do Congresso. Para ele, a atividade parlamentar na primeira semana do ano "é contra o metabolismo da instituição".
Maciel diz que diz que o articulador político é FHC. Mas os assessores do presidente dizem que o próprio presidente delegou ao menos parte da função de articulação ao vice.
Agenda cheia
Em menos de uma semana no posto, o gabinete de Maciel no anexo do Palácio do Planalto já virou ponto de referência para os políticos que não encontram outro interlocutor junto ao governo.
Na quarta-feira passada, o vice reuniu em seu gabinete, pela manhã, os presidentes do PSDB, Pimenta da Veiga, do PFL, Jorge Bornhausen, do PMDB, Luiz Henrique, os ministros da Agricultura, Andrade Vieira (PTB), e da Justiça, Nelson Jobim (PMDB), e vários deputados.
Depois de acalmar o apetite dos partidos que apóiam FHC, Maciel recebeu mais meia-dúzia de deputados. No meio tempo, ainda acompanhou, por telefone, cada passo da tentativa de aprovação do nome de Pérsio Arida na presidência do Banco Central.
Confiante em que o Congresso se reunirá a tempo de votar os projetos de interesse do governo, Maciel deixou claro que considerava previsível a atuação –ou falta de atuação– do Congresso nesta semana. "A Câmara nem discutiu os assuntos", disse.
Romaria
A romaria de políticos ao gabinete de Maciel deve-se ao fato de que o governo ainda não tem líderes na Câmara, nem no Senado.
Percebendo o vácuo, Maciel está no centro da organização da reunião de FHC com os parlamentares das bancadas que apóiam o governo nos próximos dias 26 e 27. Além disso, estuda encontros dos deputados e senadores com ministros e o próprio FHC para debater as reformas constitucionais.
O vice quer que os ministros das áreas mais cruciais para a reforma da Constituição –José Serra (Planejamento), Pedro Malan (Fazenda), Jobim (Justiça) e Reinhold Stephanes (Previdência)– ouçam os partidos.
Na sua opinião, é através desta discussão que o governo encontrará os caminhos para apresentar suas emendas –além de alinhavar o conteúdo das reformas.
Maciel levou para a Vice-Presidência da República seus hábitos de senador. Chega às 9h e só deixa o gabinete após as 22h. Na quarta-feira, saiu do anexo do Palácio do Planalto, onde está instalado seu gabinete, às 23h20.
Há mais de dez anos orbitando em torno do Palácio do Planalto, o vice de FHC conhece o modo de agir dos parlamentares e seus interesses junto ao governo. No governo Geisel, como presidente da Câmara, ajudou Petrônio Portella a articular a abertura política.
José Sarney, ao saber que seria empossado no lugar Tancredo Neves, tentou levá-lo para o Gabinete Civil. Maciel preferiu ficar no Ministério da Educação, mas, um ano e meio depois, acabou assumindo o cargo –responsável pela articulação política do governo.

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