São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Gaultier exalta beleza do Rio e do carioca

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Calça Levi's 501 branca, camiseta listrada preta e branca, colete preto e um kilt verde e vermelho sobre a calça. Assim o estilista francês Jean Paul Gaultier chegou anteontem à noite na sede da Prefeitura carioca (em Botafogo, zona sul) para receber a medalha da Ordem do Mérito da Moda.
Queimado de sol e bem humorado, Gaultier disse que as imagens do Rio e dos cariocas o impressionaram muito: "Isso deve influenciar minhas próximas coleções. Nunca vi corpos tão bonitos". Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Pergunta - Você está há quase duas semanas no Rio. Que tipo de informações e impressões tem sobre a moda brasileira?
Resposta - Tenho que ser honesto. As informações sobre o que se faz de moda no Brasil não chegam muito à Europa. A criação de institutos de moda podem fazer com que o trabalho que se faz aqui se torne mais conhecido na Europa. Já estive uma vez no Brasil, há dez anos, trazido pela Grendene, para um desfile com estilistas franceses e brasileiros. Pude ver o trabalho dos brasileiros então e achei digno de ser apresentado em Paris.
Pergunta - Seu trabalho costuma ser inspirado na moda das ruas. O que você viu no Rio pode inspirar um estilista?
Resposta - Passei o réveillon andando por Copacabana e vi homens e mulheres vestidos de branco por toda parte. Fiquei impressionado com a queima de fogos, com a macumba na praia. Também andei por Santa Teresa (bairro no centro do Rio) e fiquei impressionado com as cores, com o estilo arquitetônico.
Antes de ir embora quero visitar o Museu Carmem Miranda (no Aterro do Flamengo, zona sul). Como isso vai influenciar minhas próximas criações, ainda não sei. Mas com certeza ficará tudo armazenado. Fiquei impregnado de Brasil.
Pergunta - O que mais chamou sua atenção aqui?
Resposta - O que me deixou absolutamente impressionado no Rio foram os corpos das pessoas. São absolutamente sublimes, os corpos mais bem cuidados que já vi em minha vida. Há várias cores, várias texturas, várias nacionalidades, várias raças. De alguma forma isso vai aparecer nas próximas coleções. Uso muito a mestiçagem em minha moda e o que vi aqui me impressionou tanto que pretendo voltar várias vezes. Vou vir tanto aqui que vocês nem vão mais querer me entrevistar. Queria vir para o Carnaval, mas acho que não conseguirei. Vou acabar virando carioca.
Pergunta - Há alguma diferença entre a imagem que você fazia do Rio e a cidade que encontrou?
Resposta - Estou completamente encantado com o que encontrei. Vou a boates e à praia o tempo todo. Adorei Santa Teresa, a arquitetura antiga, a mistura de estilos que há na cidade. Fui à Confeitaria Colombo (restaurante tradicional no centro do Rio) e o contraste da construção antiga com a modernidade à volta me agradou muito. As igrejas são construções muito bonitas e o contraste entre a pobreza e a riqueza é muito interessante. Ninguém quer ser pobre, é claro, mas a pobreza aqui é mais sorridente. A sensualidade da língua me agradou muito. É ótimo adormecer ouvindo uma voz em "brasileiro" no ouvido.
Folha - Sua última coleção foi inspirada nos anos 30 e 40. A anterior, em motivos étnicos. Você não acha que a moda atualmente muda com muita rapidez, deixando as pessoas sem saber como se vestir?
Gaultier - Todas elas têm uma linha comum. Não há uma mudança fundamental. Os traços são mantidos. Pode haver uma mudança real de moda num espaço de dez anos, mas não a cada temporada. Hoje não existe mais uma só moda. São várias modas. Cada um escolhe a sua.
Pergunta: Você fez compras no Brasil?
Resposta - Sim. Estive em algumas lojas de macumba e comprei estátuas soberbas, muito estranhas e belas, de diabos. Acho que essas imagens também vão me influenciar.
Pergunta - Madonna, que esteve no Brasil há um ano, o incentivou de alguma maneira a vir para cá?
Resposta - Ela me disse que aqui estavam os homens mais bonitos da face da Terra.

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