São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Vídeo mostra face humana do mito Bird

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A TV Cultura exibe hoje, à 0h, o documentário "The Bird: Charlie Parker". Na proximidade do 40º aniversário da morte do mestre do jazz (em 12 de março), esta é uma reprise bem apropriada.
Quem achou que o cineasta Clint Eastwood carregou nas tintas de seu violento "Bird" (EUA, 1988), explorando demais o lado "junky" do grande saxofonista, tem boas chances de gostar desta produção européia para TV.
Em vez de focalizar um artista dependente de drogas, o diretor Jan Horne preferiu resgatar o lado humano de Charlie "Bird" Parker (1920-1955), um músico genial que virou a página do jazz moderno, em meados dos anos 40.
Ao lado de feras como Dizzy Gillespie e Thelonious Monk, Bird (pássaro, seu apelido) criou o "bebop" –estilo que veio a se transformar na espinha dorsal do jazz das últimas décadas.
A grande dificuldade em se fazer um documentário sobre Charlie Parker está justamente na falta de material visual. Por incrível que pareça, fora dois ou três breves registros de performances musicais e algumas dezenas de fotos, nada mais existe. Só os discos.
Além de utilizar esse material, para compor seu retrato de Parker, Horne promoveu um encontro inusitado. Reuniu na França, em 1987, Chan Parker, o pintor Harvey Cropper e o saxofonista Harold Jefta, respectivamente, a segunda mulher, um amigo e um seguidor musical de Bird.
"Ele tinha energia, era irresistível", diz a simpática Chan, lembrando de como se apaixonou pelo negro e gordo Bird, aos 18 anos de idade. Apesar de preferir garotos magricelas de olhos azuis.
Chan recorda ainda o medo que sentia de andar com ele pelas ruas de Nova York. Naquela época, o preconceito racial era muito mais declarado. E agressivo.
Revelador também é o depoimento de Harvey Cropper, que lembra o interesse do amigo músico pelas artes plásticas. Além de ter pintado algumas telas, pouco antes de morrer Parker planejava um disco dedicado aos grandes mestres da pintura.
Já o saxofonista Harold Jefta representa o fascínio que a figura de Parker exerce até hoje sobre inúmeros fãs e discípulos. O norueguês não só reproduz a sonoridade do sax alto de Bird, como compõe e improvisa na linha do mestre.
Essa verdadeira idolatria parece comprovar o que Chan resume em uma pergunta e uma resposta: "Como um gênio pode ficar fora de moda? A música que Bird deixou ficará para sempre."

Título: The Bird: Charlie Parker
Produção: Noruega/Suécia, 1990
Onde: TV Cultura
Quando: Hoje, à 0h
Apresentação: Zeca Camargo

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