São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Matão pede a volta dos Rolling Stones

CARLOS CORRÊA
DA FOLHA NORDESTE

Mick Jagger vai receber um convite especial durante o show dos Rolling Stones em São Paulo, no próximo dia 27: visitar Matão, uma cidade agrícola distante 305 km de São Paulo, a noroeste.
Um grupo de cem adolescentes vai erguer, no meio da platéia, uma faixa em inglês, pedindo para que a banda vá à cidade –ou melhor, que volte: os Stones já estiveram em Matão.
Há 26 anos, dois integrantes da banda ficaram hospedados por 18 dias na Fazenda Boa Vista, próxima à cidade.
"Foram três semanas de uma agitação nunca antes verificada na fazenda", conta Paulo Viziolli, 72, na época caseiro da fazenda –que pertence a Walther Moreira Salles, do grupo Moreira Salles, dono da rede Unibanco.
Os Stones chegaram à fazenda em uma perua Kombi, levados pelo então gerente Albert Grossmmann. Além do líder Mick Jagger, foram Keith Richards, a mulher de Jagger, Mariane, e o filho do casal, Nicholas, na época com 3 anos.
Um jornal da época escreveu que o grupo estava em Matão para fugir da polêmica surgida em São Paulo sobre uma suposta agressão a um fotógrafo. O incidente teria sido atribuído por Mick Jagger a dois seguranças contratados no Rio de Janeiro.
Para evitar novos problemas, durante a permanência da banda a segurança da propriedade foi reforçada, com a contratação de dois guardas extras. Só os funcionários da Cambuhy Citrus, outra empresa do grupo Moreira Salles, tinham acesso ao local.
Viziolli, que ainda trabalha para a família Moreira Salles, foi, junto com a mulher Joana, 69, um dos poucos que conviveram com o grupo naqueles dias. Joana era cozinheira da fazenda e o marido, além de caseiro, era motorista.
Joana conta que, durante a estada dos Stones, o consumo de batatas inglesas aumentou de sete quilos para 20 quilos por semana.
Segundo ela, Mick Jagger se surpreendeu com a comida típica inglesa preparada na fazenda e fez elogios transmitidos por uma intérprete. "O segredo é que a fazenda já foi de ingleses e eu trabalhava para eles", afirma.
Ela diz ter saudades de Mick Jagger e do filho Nicholas. "Eu ganhei uma foto dele, mas perdi em uma das nossas mudanças de casa."
Paulo Viziolli trata o líder dos Stones com intimidade: "O Mick era bravo, mas muito simpático."
Segundo ele, Jagger aprendeu a pronunciar o nome dele meio cantando e também a dar bom dia em português. "Toda manhã ele aparecia na varanda e gritava: bom dia Paulo", conta Viziolli.
O ex-caseiro diz que levou o grupo várias vezes ao bazar Adail Emiliano, no centro de Matão, para comprar fogos de artifícios. Além de fazer guerra de fogos à noite, os Stones costumavam colocar pires com velas acesas em barquinhos dentro da piscina.
Viziolli perdeu três noites com os Stones dentro da Kombi, vagando pela cidade vizinha de Araraquara. Os roqueiros queriam encontrar terreiros de umbanda. Jagger estava muito interessado em comprar fitas com músicas de macumba –mas não conseguiu.
À noite, na fazenda, além das velas na piscina, o grupo tinha outro ritual. Na hora do jantar, os músicos substituíam as lâmpadas por velas e cantavam uma música dançante.
"No meio da música eles gritavam a palavra Matão", afirma Viziolli, sem saber o que a letra transmitia.
Ele não vai ao show, mas pretende ver pela televisão. "Afinal, o Mick foi o amigo ilustre que eu tive por 18 dias. Se pudesse, iria dar um abraço nele", diz.
Uma funcionária da fazenda, que não quis se identificar, disse que, ainda hoje, a casa sede, de 33 cômodos, guarda suvenires deixados por Mick Jagger e seus parceiros.
Segundo ela, fotos e pôsteres colados nas paredes dos quartos ocupados por eles foram retirados há pouco tempo e colocados no porão da casa. No mesmo lugar estaria uma guitarra, supostamente esquecida pelo grupo.
Tudo isso permanece escondido. Até hoje, o acesso à fazenda só é possível a convidados da família ou funcionários. Os Moreira Salles não permitem nem a entrada da imprensa para registrar lembranças da visita dos Rolling Stones.
"É uma questão de privacidade", disse o gerente da fazenda, Roberto Belloto.

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