São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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O peixe e o gato

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A imagem de uma pessoa mantendo um olho no gato e o outro no peixe parece adequada à gestão da nossa economia em 1995. O peixe é a inflação e o gato, a balança de pagamentos.
A crise no México mudou os mercados financeiros nos próximos anos. Os países latino-americanos, talvez com exceção do Chile, terão muitas dificuldades para captar recursos dos investidores internacionais.
Caso o drama mexicano tenha um fim caótico, essa nova realidade pode durar anos. De qualquer modo, há um consenso de que o volume de recursos disponíveis para financiar déficits em conta corrente vai ser muito menor durante 1995.
O Plano Real, nestes primeiros seis meses de vida, tem apresentando resultados extraordinários. Com os preços totalmente livres, com uma economia em franca expansão, teremos neste primeiro trimestre de 1995 uma inflação mensal da ordem de 1,5% ao mês.
Outro indicador impressionante dos ganhos sobre a inflação tem sido o comportamento da cesta básica acompanhada pelo Procon. Ela deve valer menos de R$ 100,00 nos próximos dias e, talvez, voltar a encostar em seu valor mínimo na era do real, que foi de R$ 96,00, nos próximos 60 dias.
Boa parte desse sucesso está centrado em uma taxa de câmbio valorizada e na abertura de nossa economia. O preço a pagar foi uma rápida redução em nosso saldo comercial.
Mantidos o câmbio a R$ 0,86 e o aquecimento da atividade econômica o saldo na balança comercial para 1995 será da ordem de US$ 5 bilhões. Como o Brasil gasta por ano com juros e outros serviços algo como US$ 12 bilhões, o déficit em conta corrente seria da ordem de US$ 7 bilhões.
Para financiá-lo, precisaríamos de entrada de capital equivalente. Cerca de US$ 2 bilhões devem vir de investimentos e reinvestimentos das multinacionais aqui instaladas.
Outra parte, talvez US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões, poderá ser retirada de nossas reservas sem causar maior problema sobre as expectativas.
A entrada de novos capitais ficaria restrita a US$ 2 bilhões. O que me parece totalmente possível. Mas o governo vai ter que olhar o peixe e o gato, porque o mercado financeiro vai.

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