São Paulo, domingo, 8 de janeiro de 1995
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Xangai se transforma metrópole capitalista

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL AO SUL DA CHINA

Xangai, a mais cosmopolita das cidades chinesas, se transforma na mais capitalista das metrópoles asiáticas. Com uma economia que cresce 14% ao ano e um mercado financeiro em ebulição, ela planeja ultrapassar Tóquio e Hong Kong para conquistar a liderança regional já no início do século 21.
A ambição se escora em antigas tradições. Até a revolução comunista de 1949, Xangai era a capital comercial do Oriente e, entre a metade do século 19 e a chegada de Mao Tse-tung ao poder, seu núcleo financeiro abrigou mais de 200 bancos estrangeiros e uma Bolsa de Valores.
Os herdeiros de Mao continuam no poder, mas desde 1978 trocaram o "Livro Vermelho" comunista pelas cartilhas do capitalismo. Calcularam ser esta a única maneira de evitar que a economia do país mais populoso do mundo despencasse.
Lapidada pelo dirigente Deng Xiaoping, a fórmula transformou a China em dona da economia que mais cresce no mundo, com taxas flutuando entre 13% e 11% nos últimos dois anos. Mas Xangai, embebida pelo sonho de recuperar o glamour pré-comunista, chega a ultrapassar os índices nacionais.
Em quatro anos, a cidade na qual o PC chinês foi fundado em 1921 construiu o principal mercado financeiro do país. Quase 2 milhões de habitantes trabalham na área de finanças, recuperam uma antiga tradição e mudam o perfil econômico da era maoísta, quando Xangai era a capital industrial.
Empurrada pela tradição e ajudada por uma localização geográfica estratégica, a cidade também conta com a benção de Pequim.
Jiang Zemin, presidente da China e secretário-geral do PC, subiu os degraus do poder em Xangai. Trilhou o mesmo caminho Zhu Rongji, vice-premiê considerado o "czar das reformas econômicas".
Xangai, a maior cidade do país, pulsa num ritmo alucinante. Domingo à noite, bancos abrem suas agências, lojas de marcas ocidentais acendem letreiros de néon e táxis disputam passageiros para mergulhar no trânsito caótico de um centro cortado por becos.
Mercadinhos de frutas exóticas para os ocidentais varam a madrugada. E no mar de símbolos capitalistas, praticamente desapareceram sinais que indicavam a presença de comunistas no poder.
Na rua Nanjing, principal artéria do comércio, as táticas de venda para dezembro nos últimos quatro anos recrutaram um promotor ocidental: Papai Noel. Enfeites de Natal decoravam as vitrines de um país ainda distante do cristianismo.
Mas a estratégia xangaiense prioriza dominar o mundo das finanças asiáticas. Em novembro do ano passado, o Citibank mudou sua sede regional de Hong Kong para Xangai. Na cidade, os bancos estrangeiros já operam 26 agências e 59 escritórios de representação.
Em junho, uma cerimônia coberta de simbolismo quase parou o já lento trânsito do centro da cidade. O banco holandês ABN-Amro inaugurou sua sede no hotel Peace, o lugar onde operava antes da revolução comunista de 1949.
O edifício, construído nos anos 20, se transformou num dos marcos do Bund, região do cais no rio Huangpu e coração da vida econômica pré-comunista.
Mas além dos bancos, empresas multinacionais também abocanham uma fatia do bolo chinês.
Nos anos 50, cercada pelo isolacionismo comunista, Xangai se limitava a comerciar com a União Soviética, seus satélites da Europa oriental e Hong Kong.
A atual política de "portas abertas" levou a cidade a estabelecer vínculos comerciais com 177 países e regiões espalhadas pelo planeta e as exportações cresceram 23,3% entre janeiro e novembro do ano passado.

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