São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Moradores acusam fuzileiros navais de tortura

RONALDO SOARES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ação no sábado da Marinha nas favelas de Parada de Lucas e Vigário Geral (zona norte do Rio), que resultou na maior apreensão de drogas e munições de toda a Operação Rio, provocou queixas.
Moradores de Paradas de Lucas –onde se concentrou a ação– disseram ontem que os fuzileiros navais teriam cometido maus-tratos durante a ocupação.
A coordenadora do Centro Comunitário de Defesa da Cidadania de Parada de Lucas e Vigário Geral, Maria da Conceição Pires, disse que a entidade "foi ocupada sem comunicação prévia".
No livro de ocorrências do centro, os policiais militares que fazem a vigilância nos fins-de-semana fizeram o registro: "Foi quebrada a rotina do serviço do CCDC por tropas de fuzileiros sob comando do 2º tenente Costa Reis, onde o mesmo ocupou o terreno para fins militares".
O centro comunitário serviu como ponto de base e observação para os fuzileiros, das 5h às 22h de sábado. Conceição Pires teme sofrer "represálias da comunidade".
"Não sabíamos que o centro seria invadido. Só que agora eles foram embora e nós continuamos aqui, trabalhando", disse.
O caminhoneiro Benivaldo Vieira, 47, disse que foi abordado numa das ruas da favela e, apesar de ter mostrado a carteira de trabalho, acabou detido.
"Cobriram minha cabeça com um saco plástico e me deram chutes nas costas", disse Vieira. Segundo ele, não há como reconhecer seus supostos agressores, que estariam com os rostos pintados.
Ontem, a rádio comunitária Parque Jardim Beira-Mar veiculou mensagens pedindo aos moradores que denunciassem casos de tortura.
Segundo o departamento de comunicação social do 1º Distrito Naval, as denúncias apuradas serão estudadas pelo comando da Marinha, mas "um parecer sobre o assunto só poderá ser emitido amanhã (hoje)". O Comando Militar do Leste não se pronunciou ontem sobre o assunto.

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