São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Em SP, 35% dos meninos de rua já usam crack

GILBERTO DIMENSTEIN; ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

É fácil adquirir crack em São Paulo, uma droga que em menos de um mês de consumo vicia e inabilita ao trabalho, ao estudo e ao sexo. Já é usado por 35% dos meninos de rua paulistas.
O perfil do viciado em crack em São Paulo foi levantado através de uma investigação, ainda não divulgada, realizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) na Bolívia, Nigéria e Brasil.
Em São Paulo, a pesquisa com uma amostra de viciados foi realizada pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) e conduzida por Solange Nappo, José Carlos Galduróz e Ana Noto. Os três alertaram sobre a inexistência de campanhas educativas.
Os pesquisadores selecionaram 25 consumidores de crack de todas as camadas sociais. Desse total, exatamente 100% revelou não encontrar dificuldade para achar a droga, feita à base de cocaína.
"É a droga mais devastadora que existe", afirma o professor da Escola Paulista de Medicina, Elisaldo Carlini, do Conselho Internacional de Controle ao Narcotráfico da ONU (Organização das Nações Unidas).
Os viciados revelaram aos entrevistadores que os traficantes têm preferência pela venda do crack –foi registrada uma redução na oferta de drogas como maconha e cocaína. Segundo o estudo, essa é uma estratégia "habilidosa" para ganhar novos consumidores.
O crack é um "bom negócio" porque, além de viciar com mais rapidez, exige doses maiores do que a cocaína.
"Embora aparentemente o preço do crack seja mais acessível, a manuteção do vício por longo tempo torna-se cara, o que significa mais lucro para o traficante", diz o estudo da OMS.
A totalidade dos entrevistados reconheceu que o crack é prejudicial no trabalho, sexo e escola. "O crack é brochante. Nem penso em mulher quando fumo crack. Outro dia parei para pensar e fazia uns seis meses que eu não tinha relação com nenhuma mulher", comentou um dos entrevistados.
O viciado também se afasta do estudo, por dificuldade de concentração. A maioria dos entrevistados (76%) afirmou não estar empregada –o que indica a dificuldade de conciliar o vício com o trabalho. "Não é uma droga que dê para trabalhar ou estudar. Ela aliena", conclui a pesquisa.

Texto Anterior: Ventos criam caos no RS
Próximo Texto: Morador de condomínio de classe média alta morre de cólera no Rio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.