São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Régis Duprat descobre 'Bach paulista'

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O CD com diversas composições do mestre paulista André da Silva Gomes (1752-1844) para coro e órgão representa uma parcela mínima de sua obra.
Segundo o musicólogo Régis Duprat, o mestre-de-capela da Sé de São Paulo é uma espécie de "Bach paulista". Senhor de uma técnica de contraponto avançada, possui uma produção que o faz ser comparado a outros dois mestres da música colonial brasileira: o mineiro José Emerico Lobo de Mesquita e o fluminense José Maurício Nunes Garcia.
"Ele é tão importante quanto José Maurício", compara Duprat. "Sua linguagem contrapontística é densa. Ele tem influência profunda do Barroco, principalmente no uso do baixo cifrado (padrões harmônicos estereotipados executados por instrumentos com grande tessitura nos graves, como órgão, violoncelo, cravo e tiorba). Isso o diferencia dos mineiros, que tendiam para o classicismo."
Além de lançar outros dois CDs de Gomes, Duprat vai editar pela Paulus o livro "A Música na Sé de São Paulo", com todo o catálogo temático do compositor. Está preparando para o fim do ano a edição do tratado "Arte Explicada do Contraponto", de 150 páginas, que Gomes escreveu por volta de 1790.
Duprat observa uma superioridade teórica de Gomes em relação a seus contemporâneos brasileiros. "Vai levar mais 25 anos para o público ter idéia da grandeza dele", afirma.
Gomes deixou 130 obras (38 salmos, 17 missas, 15 ofertórios e dez motetos) contra 40 de Emerico e 220 de José Maurício. Trabalhou na Sé durante 50 anos. Para se ter uma idéia da função de destaque que exercia na época, quando d. Pedro 1º chegou a São Paulo no dia em que proclamou a independência, se dirigiu até a Sé para ouvir o "Te Deum", de André da Silva Gomes, regida pelo compositor.
O CD dá uma noção da densidade da obra do compositor. Em peças como a "Missa em Dó" (1810) e os "Cinco Motetos para a Comunhão", exibe naturalidade em lidar com dissonâncias, modulações e contraponto. Combina elementos de canto gregoriano com suaves traços clássicos e fundamentos barrocos. O resultado é uma bricolagem sem precedentes.
A interpretação do Brasilessentsia é historicamente rigorosa e correta. Elisa Freixo, como sempre, mostra por que é uma das maiores organistas da atualidade. Exerce o baixo cifrado sem se esquecer da emoção e dos ornamentos de cada passagem. (LAG)

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