São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estado evita demolição de igreja desapropriada

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário estadual da Cultura, Marcos Mendonça, tentou impedir ontem a demolição da paróquia São João, que foi desapropriada pela prefeitura para a extensão da avenida Faria Lima.
Após encontro com representantes da paróquia, o secretário determinou ao Condephaat (órgão estadual de preservação do patrimônio histórico) que reabra o estudo de tombamento dos três imóveis da igreja. Eles estão em um terreno na rua Coropé, 108, em Pinheiros.
Pela lei, imóveis cujo tombamento estão em estudo não podem ser demolidos.
Às 23h de ontem (hora do fechamento dessa edição), a autoridade responsável pelo cumprimento da ordem, o delegado Reynaldo Correa, do 14º DP (Pinheiros), disse que não poderia evitar o início da demolição.
Ele afirmou que a prefeitura tinha o direito de fazer a demolição, pois foi autorizada pelo juiz Wanderley Fernandes, da 5ª Vara da Fazenda Pública.
Um grupo de dez pedreiros, com dois tratores, estavam prontos para demolir a igreja. Funcionários da prefeitura, que não quiseram se identificar, disseram que a ordem era começar a demolição ainda ontem à noite.
Justiça
O juiz Fernandes usou um estratagema para conseguir vencer a oposição dos paroquianos, que se recusavam a deixar a igreja.
Anteontem à noite, a oficial de Justiça deixou a igreja depois de comunicar ao juiz que haveria resistência da comunidade à entrada da polícia. A oficial disse que o juiz havia suspendido a imissão de posse e comunicaria uma nova decisão às 14h de ontem.
Mas, às 8h da manhã de ontem, a oficial foi à igreja e passou sua posse para a prefeitura, depois de retirar o último móvel que estava no local.
Mesmo sem a posse do imóvel, os paroquianos passaram todo o dia se recusando a sair da igreja. Às 16h30, chegou reforço da guarda civil e o comandante da operação, Eduardo Anastasi, disse que os fiéis seriam tirados à força.
Com o impasse, os paroquianos decidiram que iriam celebrar uma última missa e sair.
A missa foi rezada em português e japonês pelo padre André Matsuo, que chorou durante todo o culto. Na hora da missa, os guardas metropolitanos tiraram os bonés e um deles comungou.
No final, a paroquiana Yasko Winnischoffer, que passou a noite na igreja para evitar sua demolição, citou a bíblia dizendo: "Deus, perdoe esses homens. Eles não sabem o que estão fazendo".
Ela também fez críticas ao prefeito Paulo Maluf: "se esta destruição está acontecendo para ajudar alguém a ser candidato à presidência, ele não se sairá bem". Após a celebração, os paroquianos deixaram a igreja.
Nesse momento, chegou a informação de que o secretário Marcos Mendonça estava tentando impedir a demolição.
O delegado Correa proibiu que os funcionários da prefeitura iniciassem a demolição. À noite, ele mudou de idéia e disse que não poderia impedí-la.
O Condephaat analisou no ano passado o pedido de tombamento da igreja. Apenas um dos três imóveis foi considerado de interesse histórico, justamente o que não está no traçado da nova avenida.

Texto Anterior: Frequentadores criticam decisão
Próximo Texto: Cupins causam a interdição da Câmara
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.