São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995 |
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Luiz Puenzo banaliza conflitos criados por Camus em 'A Peste'
DANIEL PIZA
Produção franco-americana de 1991, com elenco competente (Robert Duvall em destaque) e direção do argentino Luiz Puenzo ("História Oficial"), o filme tem passagens de muita qualidade, mas o balanço não é favorável. O erro não é o mesmo de Luchino Visconti em "O Estrangeiro" (1967), da obra mais famosa de Albert Camus (1913-1960). Visconti retirou densidade psicológica e acabou em tom relatorial. Puenzo, por sua vez, tenta dar profundidade aos personagens, mas parece pensar que ela vem dos diálogos –e esse é seu erro. A intensidade dos livros de Camus vem do estilo, da uniformização do ritmo ao longo da narrativa, e não exatamente dos diálogos muitas vezes banais (estilo "O suicídio é a única questão filosófica") que emitem. A primeira metade do filme é descritiva; não há nem sequer um close. Na segunda, os closes abundam, e a intenção é comover o espectador –o que não faz. Tal quebra de ritmo é anti-Camus. A história é uma equação arguta. Uma peste bubônica leva cidade a ser isolada; em consequência, rompe os vínculos dos que lá estão com passado e futuro, jogando-os num presente trágico. Obriga o médico (William Hurt, abúlico) a se afastar da mulher, internada à beira da morte num sanatório em outra cidade. Ele enfrenta tudo com estoicismo. No antípoda, obriga uma jovem jornalista francesa (Sandrine Bonnaire) a viver no mundo que não é seu. Ela enfrenta a tragédia com indignação; é uma hedonista e seduz o médico, que a recusa. Paralelamente, contrapõe o idealismo do cameraman francês (Jean-Marc Barr) ao cinismo do motorista local (Raul Julia). Nenhum dos comportamentos, ao cabo, vai se mostrar conclusivo. À maneira de Kafka, autor de "O Processo"? Sim, mas em Kafka os personagens nada aprendem com o sofrimento. No Camus reducionista de Puenzo, balem "filosofias de vida". (Daniel Piza) Filme: A Peste de Camus Direção: Luiz Puenzo Elenco: William Hurt, Sandrine Bonnaire, Raul Julia, Robert Duvall Lançamento: Paris Vídeo Filmes (tel. 011/ 864-3155) Texto Anterior: 'Tudo pela Vida' poupa as lágrimas Próximo Texto: Deus mostra que as coisas mudam Índice |
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