São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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'Navalha na Carne' investiga a solidão

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Peça: Navalha na Carne
Autor: Plínio Marcos
Direção: Marcus Alvisi
Com: Diogo Vilela, Louise Cardoso e Hilton Cobra
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 011/258-3616)
Quando: estréia amanhã; quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h
Quanto: R$ 12 (quinta e domingo) e R$ 15 (sexta, sábado, feriado e véspera de feriado)

"'Navalha na Carne' toca nas feridas de uma sociedade cada vez mais reprimida e solitária". É assim que o autor do texto, o dramaturgo Plínio Marcos, apresenta a peça que estréia amanhã no Teatro Cultura Artística.
A história, que mostra o submundo violento da prostituição carioca, foi montada pela primeira vez em 1967.
A nova produção, de Diogo Vilela e Louise Cardoso, estreou no Rio de Janeiro em setembro de 1994, no Teatro Villa-Lobos, onde ficou três meses em cartaz. Em São Paulo, o espetáculo faz curta temporada, até março.
Plínio Marcos se utilizou de personagens arquetípicos –um cafetão, uma prostituta e um travesti– e um ambiente de miséria e pobreza para exacerbar a impotência de um modelo de sociedade.
Apesar de diferentes, as personagens trazem todas a mesma angústia. "Todas querem dinheiro para sair da solidão através do sexo pago", diz Plínio.
A atriz Louise Cardoso, que interpreta a prostituta Neusa Sueli, esteve em contato com prostitutas na Vila Mimosa, subúrbio do Rio de Janeiro, para preparar o seu personagem.
"Descobri que elas eram iguais às personagens da história, doces e duras, e não têm vergonha da sua situação." A atriz conta também que ouviu algumas histórias dramáticas. "Muitas apanham mesmo dos cafetões, mostram marcas de ferimentos e até de tiros", conta.
Conhecido principalmente por seus papéis cômicos, como no programa "TV Pirata", da Rede Globo, ou na peça "Solidão, a Comédia", o ator Diogo Vilela encara o papel do cafetão Vado como um novo desafio. "Fazer um papel dramático é um complemento profissional para minha carreira."
Diogo acha que as novidades que a peça trazia em 1967 hoje já estão vulgarizadas. "Esses elemento marginais da sociedade já foram desvelados, o palavrão e a prostituição já estão vulgarizados e pulverizados pelas cidades."
Por isso o ator não encontrou necessidade de adentrar o subúrbio para dar mais realidade ao seu papel, como Louise. "Vejo essas figuras na porta da minha casa, na avenida Atlântica."
Marcus Alvisi, diretor do espetáculo, diz que a atualidade de um texto de quase 30 anos está no fator emocional. "A solidão é o grande tema."
Segundo ele, a peça adquire algumas conotações de acordo com o tempo e o momento de cada montagem. "Encenar 'Navalha na Carne' no Rio de Janeiro é sempre diferente do que em outras cidades, a violência e a miséria lá são mais características."
A produção e a montagem do espetáculo não contaram com acompanhamento do autor Plínio Marcos. "Peço a atores e diretores, quando montam meus textos, para me considerarem um autor morto. Shakespeare não incomoda ninguém."
O escritor escolhe bem a quem entregar suas obras. "Não deixo nenhum diretor pirotécnico trabalhar com elas", afirma ele, lamentando-se com a tendência do público de assistir aos diretores e não mais aos atores. "O Gerald Thomas, por exemplo, o que é? Tire o gelo seco dele para ver o que sobra de suas peças."

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