São Paulo, quarta-feira, 11 de janeiro de 1995
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Quem defende o bolso dos pais?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Numa decisão capaz de desgastá-lo diante de pais de quase cinco milhões de alunos de escolas particulares, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, deu ontem uma informação inesperada: não quer e não vai mais cuidar das mensalidades escolares. Está certíssimo.
Sei que vou aborrecer um boa parte dos leitores desta coluna: gente que, se consegue comprar jornal e ler a página 1-2, provavelmente está ou tem seu filho numa escola particular. É o caso deste jornalista que, como a maioria dos pais de classe média, desconfia (e com razão) da qualidade do ensino público.
Primeiro: quem deve cuidar de preços é a área econômica. Segundo: a função do ministério é elevar a qualidade do ensino público. Em especial, o primeiro grau, frequentado pelos mais pobres.
Não vejo por que (e aí está um equívoco da União Nacional dos Estudantes) o Ministério da Educação deve se preocupar com a mensalidade escolar das classes média e alta.
Para isso os pais devem se organizar, assinar contratos transparentes e com regras delimitadas de reajustes de preços. Em caso de elevações abusivas, acionar as entidades de defesa do consumidor ou a Justiça.
No limite, deve-se tirar o filho da escola, escolhendo-se uma alternativa mais barata e sem perda de qualidade. Quem tiver mais dinheiro, opta pela alternativa mais cara e melhor. Se as escolas quiserem atrair mais alunos, baixem seus preços e melhorem a qualidade. É chato? Chatíssimo.
Vamos ser honestos: um dos problemas é que muitos pais não se envolvem como deveriam na educação de seus filhos. Querem que o governo proteja seus bolsos e, numa posição passiva, imaginam que a escola é a única fonte de aprendizado; eximem-se de seu papel de educadores. Basta ver como é baixa a frequência nas reuniões de pais e professores.

PS – Critiquei o ministro José Eduardo de Andrade Vieira sobre a pouca atenção que o tema reforma agrária ganhou em seu discurso. Democraticamente, registro fax enviado ontem a esta coluna pelo ministro: até ontem, ele já enviou ao Palácio do Planalto 21 decretos de desapropriação, somando 358 mil hectares, espalhados em dez Estados.

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